Caravanas celebram 74 anos de Lula

Ao completar 568 dias de resistência, a Vigília Lula Livre, em Curitiba, recebeu dezenas de visitantes de todo o Brasil





Celebração do aniversário de Lula na Vigília Lula Livre. Foto: Joka Madruga/Agência PT

O aniversário de 74 anos de Luiz Inácio Lula da Silva foi celebrado neste domingo (27) em diversas cidades do Brasil e pelo mundo. Em Curitiba, cidade da prisão política do ex-presidente, a Vigília Lula Livre montada no Bairro Santa Cândida recebeu dezenas de caravanas oriundas de todas as regiões do Brasil. Cerca de 5 mil pessoas passaram pelo espaço ao longo do dia, segundo os organizadores do ato.

O evento reuniu familiares, amigos, militantes do partido e movimentos sociais, lideranças sindicais e políticas, além de uma multidão de apoiadores do ex-presidente, que encararam horas de viagens para estarem presentes neste momento histórico. Entre os destaques uma caravana de nove ônibus vindo do Distrito Federal. “A liberdade de Lula significa a retomada do Estado democrático de direito. Queríamos que ele estivesse aqui entre nós, para dar um abraço nele, aquele abraço que você dá em um pai”, disse Bira Câmara, após um trajeto de 24 horas desde a capital federal.

Um dia inteiro de viagem que, segundo a militância, valeu cada instante. “Além da celebração do aniversário de Lula, esse é um momento de unificação das esquerdas do Brasil. Estamos aqui não somente por sua liberdade, mas em defesa da democracia do Brasil”, disse Claudia Sarti, também da caravana do DF.

Claudia e Bira, do Distrito Federal: 24 horas de viagem. Foto: Júlio Carignano

Um sentimento duplo de alegria e revolta marcou a passagem do aniversário do ex-presidente. “É uma celebração, sem dúvida, mas ao mesmo tempo que estamos aqui comemorando seus 74 anos, também seguimos denunciando essa prisão arbitrária e injusta”, apontou Cláudia Moreira, da caravana do Pará. “Eu gostaria mesmo é de estar em São Bernardo do Campo, com o Lula com um semblante feliz e nos braços do povo”, disse Nathan de Oliveira, que veio de São Paulo.

A palavra gratidão foi uma das mais citadas pelos presentes. “Estamos aqui prestando nossa solidariedade ao Lula, que foi o melhor presidente que esse país já teve. Aquele que quase tirou da Inglaterra o posto de quinta maior economia do mundo, que levou o Brasil a um patamar que nenhum outro presidente conseguiu, na época do pleno emprego junto com o governo Dilma. É muita gratidão por tudo isso”, completou Nathan.

Paulistanos viajaram seis horas para participarem do ato na vigília. Foto: Júlio Carignano

O paulistano, que viajou seis horas para participar do ato, destacou a liderança que o petista ainda exerce mesmo encarcerado. “Em tempos de obscurantismo, onde as pessoas ostentam burrice e ignorância, temos um líder encarcerado em Curitiba, que mesmo preso há mais de 560 dias, sabe mais sobre que está acontecendo no momento no Brasil e no mundo que o presidente que foi eleito”, acrescentou Nathan.

Preso por expressar opinião

Em meio as várias bandeiras que coloriram o ato deste domingo, algumas do time de futebol de coração de Lula: o Corinthians. Entre elas uma do Coletivo Democracia Corintiana, carregada por um rapaz que, em agosto deste ano, foi vítima do atual momento de ataque ao estado democrático de direito. Rogério Lemos Coelho, 44 anos, preso no clássico entre Corinthians e Palmeiras, por manifestar sua opinião contrária à Jair Bolsonaro em um estádio de futebol.

Rogério Coelho: “Ninguém pode ser preso por expressar sua opinião”. Foto: Júlio Carignano

O corintiano foi detido antes mesmo do clássico começar e levado à uma delegacia que fica dentro da Arena Corinthians. “Perguntaram o que eu estava falando, me deram um mata leão, me levaram para dentro de uma delegacia que fica dentro do estádio. Colocaram as botas na minha cara, falaram se eu não era ‘valentão’ pois gostava de xingar o presidente”, lembra Rogério.

À época, a diretoria do clube manifestou apoio ao torcedor, que hoje está processando a PM paulista. Um episódio que, segundo o torcedor, é a demonstração do atual momento que vive o país. Rogério aproveitou o momento de celebração do aniversário de Lula para deixar seu recado à um dos corintianos mais ilustres do país. “A única coisa que gostaria de falar para ele [Lula] é o quanto nós admiramos ele, o quanto ainda precisamos dele aqui fora”, disse Rogério.

Festa completa

Os 74 anos de Lula teve todos os elementos de uma grande festa: o tradicional parabéns pra você, dezenas de balões soltos no céu do Santa Cândida e deliciosos bolos feitos pela Associação das Padarias e Cozinhas Comunitárias, um grupo de mulheres da Rede de Economia Solidária. Um bolo feito com muito amor e carinho, como disse Rosalba Eliane Gomes Wisnievski, uma das seis mulheres que atuou na produção dos bolos.

“O Lula foi o pai das padarias comunitárias. O projeto das padarias comunitárias surgiu durante o primeiro mandato dele. Então foi uma emoção muito grande para gente. Confesso que deu vontade de chorar, pois tem a alegria da comemoração do aniversário, mas a tristeza dele estar comemorando onde está. Apesar da vontade de chorar, foi feito com muito amor e carinho”, conta Rosalba.

Rosalba Wisnievski, uma das seis mulheres que atuou na produção dos bolos. Foto: Joka Madruga/Agência PT

O bolo feito pelas trabalhadoras da economia solidária foi cortado em um ato simbólico com a presença de lideranças políticas; de Frei Chico, irmão de Lula; e de Rosângela da Silva, a Janja, namorada do ex-presidente, que dedicou o primeiro pedaço às mulheres que estão na construção diária da Vigília Lula Livre.