Diálogos de Gleen mostram que ele tentou preservar a fonte

Denúncia descreve trechos de conversa descartada pela Polícia Federal





Foto: Lia de Paula/Agência Senado

Os diálogos entre o jornalista Gleen Greenwald e o hacker Luiz Henrique Molição obtidos pela Polícia Federal e utilizados na denúncia do Ministério Público Federal (MPF/DF) mostram que o profissional tentou preservar a fonte e que não participou do hackeamento do ex-juiz Sérgio Moro e dos investigadores da Lava Jato. Em nota, o Intercept Brasil disse que esse mesmo material havia sido descartado durante a investigação por não apontar envolvimento de Gleen no crime cibernético.

A denúncia afirma que  “Greenwald, diferentemente da tese por ele apresentada, recebeu o material de origem ilícita, enquanto a organização criminosa ainda praticava os crimes”. Para isso, descreve diálogo entre Molição e Gleen para que o norte americano opinasse sobre os dados obtidos.

Na conversa, Gleen destaca que “nós vamos deixar muito claro que nós recebemos tudo muito antes disso, e não tem nada a ver com isso, entendeu?”, demonstrando que os arquivos foram recebidos anteriormente as reportagens que estavam sendo veiculadas na imprensa.

Para Gleen, o procurador da República Deltan Dallagnol tinha suspeita que havia sido rackeado. “Ele sabe que alguém pegou, mas ele não sabe quem tem”. Molição, então, pede orientação sobre o que fazer com os arquivos: “A gente também queria saber a sua opinião a respeito de algo. Como, assim que você publicar os artigos, todo mundo vai excluir as conversas, todo mudo vai excluir o Telegram, a gente queria saber se você, o que você recomenda fazer”.

Neste momento, Gleen não opina e confirma que apenas receberam o material dos hackers. “Eles vão tentar acusar que “nós formam” parte dessa ah… tentativa de hackear. Eles vão com certeza acusar. Então para mim, mantendo as conversas, são as provas que você só falou com a gente depois você tinha tudo. Isso é muito importante para nós como jornalistas para mostrar que nossa fonte só falou com a gente depois que ele já
tinha tudo”, previu o jornalista.

Sigilo de fonte

Para a denúncia, o diálogo de Gleen com Molição comprova que o jornalista recebeu o material de origem ilícita enquanto a organização criminosa ainda praticava condutas semelhantes, buscando novos alvos e tentando subverter a noção de proteção ao
“sigilo da fonte” para, inclusive orientar que o grupo deveria se desfazer das mensagens.

Por outro lado, não é isso que sugere a fala de Gleen Greenwald descrita na denúncia: “como jornalistas, e obviamente eu preciso tomar cuidado como com tudo o que estou falando sobre “essa assunto”, como jornalistas, nós temos uma obrigação ética para “co-dizer” (?) nossa fonte.  Então, nós não podemos fazer nada que pode criar um risco que eles podem descobrir “o identidade” de nossa fonte”, preveniu.

Por fim, Gleen optou por não aconselhar Molição sobre destruir ou não os dados. “É difícil porque eu não posso te dar conselho, mas eu eu eu eu tenho a obrigação para proteger meu fonte e essa obrigação é uma obrigação pra mim que é muito séria, muito grave, e nós vamos fazer tudo para fazer isso, entendeu?”, se isentou o jornalista.

Ameaça
Em nota pública, o Intercept Brasil disse que a denúncia do procurador do MPF, Wellington Divino de Oliveira, trata-se de uma perseguição política e tentativa de intimidação da atividade jornalística. “Causa perplexidade que o MPF se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal.

O sigilo de fonte é assegurado pelo Artigo 5, no inciso XIV: É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

Clique e confira a denúncia na íntegra:

TARJADAdenuncia spoofing