Quem lucra com a terra arrasada brasileira?

FIO DA MEADA | Em meio ao desemprego, bancos têm lucro bilionário e sambam na nossa cara





Foto: Arquivo Fotos Públicas

UMA INDIGNAÇÃO | Hoje vamos discorrer sobre essa jabuticaba brasileira, o oligopólio dos bancos, essas instituições financeiras que vendem acesso a crédito e lucram, muito, num cenário que quase ninguém consegue consumir nada porque quem tem emprego usa dinheiro para pagar boletos e se guardar para quando o Carnaval chegar.

FOLIA DE FEVEREIRO | Antes mesmo do Carnaval 2020, quatro dos cinco maiores bancos que atuam no país já divulgaram seu lucro líquido (o que sobra quando desconta todas as despesas e provisões). Os bancos privados continuam sambando na nossa cara. O Itaú lucrou R$ 28,3 bilhões, Bradesco R$ 25,8 bilhões e Santander R$ 14,5 bilhões. Mas o que mais chama a atenção é o lucro do Banco do Brasil, uma instituição de economia mista, gerenciada pelo Governo Bolsonaro: o BB lucrou R$ 18,16 bilhões.

Agência BB da Kennedy, em Curitiba-PR. Foto: Joka Madruga/SEEB CURITIBA

E EU COM ISSO? | O que impressiona, além do valor bilionário difícil de mensurar quantitativamente, é o que representa o percentual desse crescimento: o Banco do Brasil aumentou seu lucro líquido em 41,2% no comparativo entre os anos de 2018 e 2019. Nos bancos privados, essa diferença de crescimento do lucro líquido foi menos da metade: de 20% no Bradesco; 17,4% no Santander; e 10,2% no Itaú.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?| O curioso é que na mesma semana que o lucro do Banco do Brasil foi divulgado, os trabalhadores do BB realizaram uma manifestação nacional, com uma paralisação parcial de unidades administrativas e algumas agências contra um projeto de reestruturação.

Ato fecha departamentos do BB e Caixa em Curitiba

 

UMA NOTA SÓ | Já faz três anos que o sonho de uma carreira estável virou pesadelo no BB (veja aqui). Coincidência ou não, os bancos públicos são atacados efetivamente pelos seus próprios gestores depois do golpe que tirou o Partido dos Trabalhadores do poder, com o impeachment da presidenta Dilma.

DANÇA DAS CADEIRAS | O Itaú é historicamente o maior desses oligopólios entre as instituições financeiras que atuam no país e chega em 2020 amargando um 2019 com “o menor crescimento” (lucro cresceu “somente” 10,2%), pois não mais lidera esse ranking “com folga”.

Agência do Itaú na Alep.

DESFILE DOS CAMPEÕES | Em 2019, o Itaú lucrou R$ 28,3 bilhões e olha o Bradesco ali chegando, com R$ 25,8 bilhões. E num cenário que o acesso ao crédito não está mais facilitado para o consumo, pois a política anticíclica terminou com o fim do governo Lula, lá em 2010.

DE OLHO NA PRIVATIZAÇÃO | Os trabalhadores bancários denunciam sistematicamente os riscos de privatização do Banco do Brasil e da Caixa, bancos públicos, lucrativos e que possuem um importante papel de fomento ao financiamento de políticas públicas, como habitação e agricultura, e de infraestrutura. Esse caminho da privatização ainda não se efetivou definitivamente, mas aparece primeiro na falta de condições de trabalho (remoções e realocações impostas aos trabalhadores, que resultam num cenário de agências fantasmas para o atendimento ao público e superlotação em nichos para atendimento virtual) e naquela sensação de abandono para a população que precisa desses serviços.

Se tem lucro, tanto quanto nos privados, a quem interessa a venda dos bancos públicos?

UM FILME | Assista o documentário “Estou me guardando para quando o Carnaval chegar”, filme de Marcelo Gomes sobre uma cidade chamara Toritama, localizada no sertão de Pernambuco, uma narrativa sobre o trabalhador explorado pela cultura do empreendedorismo e uma reflexão sobre o controle do próprio tempo.