Frota apresentará pedido de impeachment que a esquerda não teve coragem de fazer

Partidos têm concentrado oposição em notas de repúdio e denúncias a organismos internacionais





Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputados

O ex-bolsonarista Alexandre Frota apresentaria hoje (17) o primeiro pedido de impeachment contra o presidente da República. A justificativa é a de que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao não respeitar os protocolos de saúde e estimular os atos do dia 15 contra o Congresso e o STF em meio uma pandemia. Enquanto isso, a esquerda brasileira segue terceirizando sua atuação política, limitando-se a apresentar denúncias contra Bolsonaro na OMS, ONU, ou tuitando #foraBolsonaro sem uma ação efetiva.

De acordo com o deputado federal Alexandre Frota (PSDB), o pedido de impedimento de Bolsonaro está pronto e seria protocolado no meio da tarde do dia 17 de março. No entanto, por causa do coronavírus, ele decidiu postergar o pedido até o encerramento da crise. “Hoje devido ao processo Nacional de combate ao Coronavírus optei por não ir a Câmara e adiar todo o processo que faríamos hoje às 16 horas . Vou aguardar uma melhor data. Mas o texto está pronto”, afirmou. Portanto, o pedido pode ser apresentado em breve.

Na outra ponta, há tempos a esquerda tem dito que Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade. Motivos para isso não faltam: interferência em investigações, uso da máquina pública, defesa da Ditadura, ataques ao Congresso Nacional e, por fim, estímulos à pandemia. Mesmo com ficha corrida tão extensa, os partidos de esquerda desconversam quando o assunto é protocolar o pedido de impeachment. O tema, inclusive, saiu da pauta das manifestações que ocorreriam no dia 18 mesmo com a comprovação que Bolsonaro mandou mensagens no Whatsapp estimulando atos contra o Congresso.

O vacilo contra a deposição de Bolsonaro tem diversos pontos. Um deles é o temor de que o pedido estimule um golpe brando dado pelo presidente. Bolsonaro poderia alegar que estaria sendo derrubado e usar isso para legitimar um novo AI-5. Outro ponto da aparente timidez reside na incerteza do futuro, uma vez que Bolsonaro é um adversário conhecido e o vice-presidente, Mourão, é imprevisível. Nossos revolucionários temem começar a revolução e não saber como ela termina.

A esquerda ainda parece não pedir o impedimento de Bolsonaro para não perder o monopólio do discurso de que Dilma Rousseff foi golpeada e o ato é uma revanche. “Não somos golpistas”, dizem. Por outro lado, a deposição de um presidente incapaz e que infringiu normas institucionais também é um ato democrático. Talvez “antidemocrático” seja aguardar o fim do mandato de alguém que diariamente promove a balbúrdia. E a esquerda pode estar optando pela democracia da omissão. 

Provavelmente o futuro pedido de Alexandre Frota não resulte na abertura do processo de impedimento. Talvez nem seja essa a intenção. O contexto é ir construindo uma narrativa, assim como com Dilma. As ruas não ficaram lotadas da noite pro dia. Seu impedimento nasceu no parlamento, se fortaleceu nas ruas e redes e só então se concluiu no Congresso sob o argumento de vontade popular. 

O barco da história está passando. Frota embarcou nele. Janaína Paschoal, autora do impeachment, defende que Mourão assuma a presidência, comprando sua entrada na nau da deposição. O jurista Miguel Reale falou em exame psicológico em Bolsonaro, o mercado está derretendo e ciente que Bolsonaro e Guede são incapazes de entregar o que ofereceram. O barco pode partir bem antes de 2022. Resta saber qual será seu destino e se a esquerda estará no timão.