Ratinho Jr altera decreto de alimentação escolar orgânica e desconsidera proposta da sociedade civil

Nova versão do decreto publicada em diário oficial não prioriza agricultura familiar




FonteTerra de Direitos

Merenda oferecida aos alunos, no Colégio Estadual Elza Schewder Moro, em São José dos Pinhais. Foto: Arnaldo Alves / ANPr.

Uma carta elaborada por 22 organizações da sociedade civil e enviada ao governador do Paraná, Ratinho Jr., neste dia 2 de abril, denuncia que o governador  alterou as regras para implantação de uma política de aquisição de alimentos orgânicos para a merenda de todas as escolas da rede pública do estado. O que era para ser uma conquista fruto do trabalho de organizações da sociedade civil que ajudaram a elaborar uma proposta de fornecimento de alimentação saudável se tornou na verdade uma grande preocupação: isso porque o Decreto nº 4.211/2020, publicado em diário oficial no dia 6 de março, é diferente da minuta assinada pelo governador em setembro do ano passado, e que foi amplamente divulga pelo governo como uma avanço e incentivo para a agricultura familiar.

O novo decreto suprime ou modifica pontos centrais da proposta elaborada pelo Grupo de Trabalho Intersetorial Estadual (GTI-E), criado em 2018 e composto por representantes de 34 instituições públicas e de entidades da sociedade civil – entre elas a Terra de Direitos – para ajudar na proposição de fornecimento de alimentos orgânicos para a rede de ensino pública do Paraná.

A proposta elaborada pelo GT e assinada pelo governador no ano passado previa que todas as mais de 2 mil escolas da rede tivessem alimentação escolar 100% orgânica até 2030. Agora, não há metas ou prazos no texto do decreto. A pouca quantidade de alimentos agroecológicos na atual alimentação escolar – no ano passado apenas 5% da merenda do estado era orgânica – mostra que, sem um prazo definido, é possível que um longo caminho seja percorrido até que todas as escolas do estado tenham uma alimentação saudável.

A carta assinada pelas organizações destaca os prejuízos trazidos pelas  mudanças no decreto publicado em diário oficial. No documento, as organizações destacam que a nova proposta de aquisição de alimentos feita pelo governo deixa de dar ênfase à preferência de produtos oriundos da agricultura familiar ou produzidos por beneficiários da reforma agrária, indígenas e povos tradicionais. Além disso, o decreto 4.211/2020 também reduz alguns dos incentivos propostos para a aquisição de alimentos agroecológicos e retira a participação da sociedade civil no Comitê Gestor do Plano de Introdução Progressiva de Produtos Orgânicos na Alimentação Escolar do Estado do Paraná.

“Como é possível assinar e propagandear um instrumento e publicar no diário oficial outra proposta? Como é possível enfraquecer a política pública para alimentação saudável das crianças nas escolas paranaenses sem qualquer meta ou indicativo?”, questionam na carta.

As organizações reivindicam que um novo decreto seja publicado, com a minuta de decreto elaborada pelo GTI-E e já assinada por Ratinho JR.

:: Leia a posição das organizações da sociedade civil sobre o decreto 4211/2020