O engenheiro eletricista da Copel, Leandro Grassmann, assume o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) em 1o de junho. E a tarefa não é fácil de assumir a entidade em meio a pandemia de coronavírus, desregulamentação do trabalho e ataques que os sindicatos vêm sofrendo. Nessa conversa, ele avalia o momento atual e, como bom engenheiro, projeta o futuro buscando minimizar os erros e superar os obstáculos.

Você assume o Senge-PR durante a pandemia de Covid-19 e com as entidades sindicais sendo alvo de ataques dos governos e certo descrédito da sociedade. Como enfrentar esses desafios?
Leandro Grassmann: Os ataques aos sindicatos, quer sejam por parte do Governo, da Sociedade ou do ‘Mercado’ já ocorrem há muito tempo. É um movimento com fim unicamente econômico e que, nos últimos 2 ou 3 anos, tem mostrado sua face mais cruel. Com as reformas e MP´s editadas, vem retirando fontes de manutenção dos Sindicatos, bem como suas atribuições legais. Também atacam outro ente que foi criado para defender o trabalhador, a Justiça do Trabalho.

As relações de trabalho estão tendendo a manter-se somente entre empregador e empregado, colocando os dois lados em supostas condições de igualdade ao negociar. O Senge, como entidade sindical, continua sua trajetória de lutas e defesa dos profissionais da Engenharia e Geociências.

O COVID-19 gerou uma crise internacional, e não se sabe quando cessará. Impõe uma nova realidade a todos nós. Apesar de incontáveis consequências negativas, ainda penso que temos um catalisador para inovações. É um fator externo, indesejado, mas que nos obriga a repensar nossa forma de nos relacionar e produzir.

Um dos principais baques na receita sindical é o fim do imposto sindical. Como combater essa perda de receita?
Leandro Grassmann: A receita dos sindicatos, quando o imposto sindical passou a ser facultativo, caiu vertiginosamente. Muitos sindicatos perderam, de um ano para outro, mais de 80% das receitas. Para o Senge não foi muito diferente.

O que se percebe é uma certa aversão aos sindicatos. Um descolamento perigoso, vez que muitos representados não reconhecem a importância da Entidade Sindical e deliberadamente optam por não contribuir. Percebe-se que a questão é conceitual e não financeira.

O Senge é um sindicato forte, tem posições firmes e bem fundamentadas. Os argumentos que usamos são sólidos e os resultados para nossos representados são, na sua maioria, superiores a muitas outras negociações.

O desafio está justamente aí: Fazer com que nossos representados entendam que os resultados que obtemos são consistentes e acima da média. Que nos reconheçam por isso e que entendam que é importante que cada profissional ajude a financiar o Sindicato, sob o risco de não haver quem o defenda no futuro.

Leandro Grassmann, do Senge-PR. Foto: Manoel Ramires

O senhor é engenheiro da Copel. Conte como é sua trajetória da base da categoria até a presidência?
Leandro Grassman: Sou Engenheiro formado há praticamente 26 anos e já atuei em diversas empresas e segmentos. Desde a formatura, só havia trabalhado em empresas privadas. Em 2010, após muitos anos protelando, decidi realizar um sonho da época da faculdade: Trabalhar na Copel. Fiz concurso, passei e iniciei minha jornada em 2010. No entanto, já no primeiro ano de trabalho, percebi que haviam muitos problemas relacionados ao exercício da profissão. Ao final de 2010 comecei a me envolver com o Senge. Inicialmente, cobrando por melhorias nas condições de trabalho e salário. Era época do ACT. Na gestão 2014-2017 ingressei na Diretoria Executiva como Diretor Secretário. Em 2015, houve um remanejamento e passei a Diretor Financeiro, cargo que exerci até o final da gestão. Na atual gestão (2017-2020), sou Vice-Presidente.

O Senge-PR tem imposto uma série de “derrotas” à Copel tanto em questões financeiras e de terceirizações, como garantia de direitos e negociações salariais bem sucedidas. Tem algum segredo?
Leandro Grassman: A Copel tem mais de 7000 empregados e 19 Sindicatos que os representam. O Senge representa cerca de 8% destes profissionais. Há mais de 10 anos, com raras exceções, as negociações ocorrem em conjunto. Tanto o Senge quanto os demais Sindicatos possuem bons advogados em suas assessorias. Na maioria das vezes, as estratégias e ações judiciais são conjuntas. O que observamos no relacionamento com a Copel é que a sinergia obtida pelo alinhamento prévio dos Sindicatos proporciona resultados favoráveis para os empregados.

Foto: Leandro Taques

A engenharia brasileira viveu um momento de ouro até à Lava Jato. Depois ela sofreu com a crise econômica e com o noticiário policial/político. O resultado disso é perda de empregos e de visão da engenharia nacional como estratégica para o desenvolvimento nacional? Como o sindicato pode colaborar na retomada de confiança do setor?
Leandro Grassmann: Tenho minhas dúvidas se a Engenharia chegou a ser efetivamente considerada estratégica para o desenvolvimento nacional nos últimos 50 anos. É certo que nossa profissão teve bons momentos, mas penso que a Engenharia foi a reboque da economia, na maioria das vezes. Houveram alguns programas de Governo que priorizavam a pesquisa e Engenharia nacionais, mas foram casos pontuais.

Há um problema crônico que nunca foi totalmente resolvido: a insuficiência de políticas públicas de longo prazo, voltadas à ciência, pesquisa, desenvolvimento e melhorias de condições básicas da população. Quantos Ministros de Ciência e Desenvolvimento foram oriundos das áreas de Pesquisa ou Engenharia? Quantos Secretários de Obras são Engenheiros?

Quando a economia vai bem, tudo vai bem. Mas, nos momentos em que a atividade econômica decai, sem políticas adequadas que ‘mirem’ no futuro, o País fica sem rumo. O investimento em pesquisa e os conhecimentos dos profissionais de Engenharia poderiam ajudar em momentos de crise, propondo soluções que mitiguem os efeitos da crise.

A Lava Jato foi a ‘pá de cal’ que faltava. Desmantelou empresas de Engenharia, sob o pretexto de serem ‘corruptas’. Ainda não vivemos todos os desdobramentos e consequências da Lava Jato. A melhora de confiança do setor passa obrigatoriamente pela adoção de um ‘rumo’ desenvolvimentista pelos Governos. É indispensável olhar para a Engenharia como um investimento, não despesa. Aliado a isso, é necessário valorizar a profissão e os profissionais de Engenharia e Geociências.

A desregulamentação da profissão atinge, principalmente, os salários e as atribuições da engenharia. Qual é a sua posição sobre o assunto? É modernização do trabalho ou reserva de mercado?
Leandro Grassman: Nem um nem outro. O pretexto de modernização vem sendo usado por quem tem interesse na desregulamentação ampla e irrestrita como forma de convencimento da população leiga. Essa situação já ocorre, mesmo com Leis que protejam a Engenharia. Num mercado desregulamentado, especialmente num ambiente em que não há maturidade suficiente para discernir um bom profissional de um aproveitador, a tendência é que os serviços sejam precarizados, nivelando-se ‘por baixo’ a qualidade e remuneração.