A sociedade brasileira já é responsável pelas mortes de Covid-19

Com 1,3 mil mortes, brasileiros parecem ter optado pela exposição viral antes do pico de contaminação





O governador João Dória relaxou o isolamento social. Foto: Governo do Estado de São Paulo

Com 1342 mil mortes ontem (3), digo que essa conta não é mais só do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido). Pode incluir prefeitos e governadores, como o de São Paulo, João Dória (PSDB), que adotaram a exposição viral, decretando a reabertura do comércio e também obrigando funcionalismo a retornar ao presencial, aos empresários que expuseram seus funcionários e as pessoas também, que optaram pelo lazer e por desobedecer as regras rígidas quando elas ainda existiam.

No Paraná e em Curitiba, shoppings e academias foram reabertas. As ruas já vivem dias normais de junho, com muita gente por aí. Em São Paulo, epicentro das contaminações e mortes, o governador João Dória tucanou a quarentena com um tal de “isolamento consciente”, autorizando gradualmente o retorno as atividades e cada vez mais distante de endurecer as medidas de distanciamento. Em Itaipu, a binacional já mandou os funcionários voltar ao trabalho presencial a partir do dia 8 de junho. Por todos os cantos, empresas reabrem e aglomeram gente, como no caso de frigoríficos.

As mortes já viraram números. 587 mil contaminados ou um milhão, que diferença faz? Nos acostumamos a elas assim como com a violência nas periferias, com o racismo velado e explícito, com o machismo, com a mulher que apanha em casa, com as pessoas que não têm moradia, com o político que prefere recapear avenida a construir escola, com corruptos e heróis de estimação.

O COVID-19 mostrou que não nos movemos pela solidariedade, embora muitos sejam solidários; pela compaixão, embora muitos não tirem Jesus da boca; pela fraternidade, afinal, agora quem se contamina e morre é pobre. Já o rico, bom, alguns ainda têm a coragem de requerer o auxílio emergencial de R$ 600 enquanto o presidente vetou o uso de R$ 8,6 bilhões no combate a pandemia. A prioridade é pagar os juros. Ou seja, bancos e mercado financeiro.

Nosso instinto de sobrevivência está descalibrado. A pandemia mostrou que estávamos doentes e contaminados muito dantes dela chegar entre nós por avião e na comitiva presidencial. E o pior, resistimos em nos tratar ou optamos por placebos e cloroquinas.

Um dia, espero, o coronavírus se vai ou será controlado por vacinas e por caixões. Mas nossa pandemia social seguirá sendo necessária de se tratar.