Longe da interação com o público e da renda de eventos, artistas da cena local têm usado a força das redes sociais para divulgarem novos projetos neste período de quarentena. É o caso do Bangstars, grupo de rap curitibano formado por Marinho do Rap, Dj Mco e Zito. Em junho eles estrearam o vídeo clipe ‘Sem passa pano’, música que compõe o álbum ‘Love Music Money – Parte 2’, que está prestes a ser lançado pelo trio.
Em entrevista ao Porém, Marinho do Rap – único remanescente da formação que iniciou a caminhada do grupo em 2008 – falou sobre o contexto de produzir em meio a pandemia e sobre o novo CD que está na reta final. Mais três vídeo clipes estão engatilhados junto ao lançamento do disco. Assim como o ‘Love Music Money’ (lançado em 2019), a sequência contará com vários convidados que participarão de uma “super live” de lançamento. “A tendência hoje são as lives e nós não poderíamos deixar de fazer também. Estamos tomando todos os cuidados nas transmissões para que nosso trabalho não trave totalmente’, diz Marinho.
Sobre a música Sem Passa Pano, feita em parceria com o rapper Rel Firma Zica, o vocalista do Bangstars explica que o som é um contraponto a atitudes que vão a contramão do que o movimento hip hop sempre pregou: o rap enquanto sinônimo de poesia e protesto. “O rap mudou muito, o público mudou. Muitas pessoas te ouvem hoje não pelo o que você escreve”, comenta Marinho. “O sinônimo de bom mudou muito, hoje as pessoas dão valor aos likes e views, mas deixam o conteúdo em segundo plano”, acrescenta.
Seguindo a linha de raciocínio, o rapper é enfático ao criticar MCs que se apresentam como ‘de direita’. “O que vemos é uma direita que prega ódio, preconceito, racismo, machismo. O rap não pode compactuar com essas atitudes. Sendo ou não do rap, não dá pra passar pano para isso”, diz Marinho. Ele aproveitar para opinar sobre a onda de protestos antirracistas que têm ocorrido no Brasil e no mundo desde o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos. No Brasil, essas manifestações também denunciam o caráter fascista e racista do governo de Jair Bolsonaro.
“Nós [povo preto] sofremos isso desde sempre, mas esse governo deu força para o racista sair e botar mais a cara, porque antes agiam na surdina. O povo preto está agindo e se organizando. Está dizendo: ‘Isso não pode mais acontecer com o nosso povo’”.
O rapper afirma que a população negra tem buscado cada vez mais seu protagonismo. “Nossa cota é legítima, é nosso direito, não existe meritocracia. Nosso povo é usado e abusado desde de sempre. Nossa luta é séria e necessária, não é mimimi!”, exclama Marinho.
Curitiba ‘maquiada de branca’
Outra temática presente nas composições do Bangstars é a desigualdade social em Curitiba, muitas vezes maquiada pelos gestores com a propaganda da “capital modelo”. Propositalmente, segundo Marinho, é apagada a história da participação do povo negro na construção e no desenvolvimento da cidade. Para o artista, “fazer rap em Curitiba é bater de frente com uma camada da sociedade que acredita que não existe problemas sociais, que não existe racismo e desigualdade por aqui”.
“O rap é o dedo na ferida dos gestores públicos que jogam nosso povo na beira do lixão, na beira de rio sem nenhuma condição digna de moradia. A polícia está eliminando nossos jovens, não temos espaços culturais, os organizadores das batalhas de rimas não conseguem liberação para fazer o encontro, a guarda municipal espanca muitos jovens que tentam fazer um momento de diversão e conscientização”, comenta.
Ao fim da conversa com o Porém, Marinho deixou um recado aos leitores e fãs de hip hop para que acessem as redes do Bangstars (que estão disponíveis logo abaixo) e despediu-se com uma mensagem de boas vibrações. “Muito amor, música e dinheiro para o nosso povo sofrido. Progresso para todos nós!”.
Confira o vídeo clipe Sem Passa Pano, lançado em junho.
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