Curitiba empresta em dólar e aposta na queda da moeda

Divida de quase meio bilhão de reais - em números atuais - serão pagos na cotação da moeda americana daqui cinco anos





Empréstimo é justificado para a criação de novos corredores de ônibus. Foto: Pedro Ribas/SMCS

Cenário de crise econômica, queda de arrecadação, PIB negativo, risco país nas alturas e incertezas sobre o futuro. Nesta conjuntura, quem emprestaria dinheiro em dólar em 2020 quando a moeda americana disparou? A Prefeitura de Curitiba, sim. E não foi pouco dinheiro. Apenas 75 milhões de dólares. Empréstimo aprovado na Câmara Municipal – em meio a pandemia – para mais uma vez socorrer os interesses das empresas de ônibus sob argumento de investimento em mobilidade urbana. Essa dinheirama representava R$ 391 milhões.

O pedido de empréstimo foi feito em junho. A gestão de Greca achou ser um bom negócio, ainda mais porque se comprometeu a investir do próprio bolso outros 18,7 milhões de dólares, subindo a conta para R$ 488 milhões. Por quê a gestão preferiu tomar dinheiro no New Development Bank (Banco dos BRICS) e não no BNDES, a explicação é de que os juros compensam até a alta do dólar. E ainda fez uma aposta: daqui cinco anos, quando começar a pagar o empréstimo, o “dólar deve estar estabilizado”. Pra cima, pra baixo, em qual patamar? Nem os especialistas do mercado sabem dizer.

Como comparativo, quando aprovado na CMC no começo de junho, o dólar estava cotado a R$ 5,25. No fim de julho, a moeda americana valia R$ 5,15 influenciado pelo mercado externo. Não custa lembrar que em janeiro de 2020, o dólar começou com cerca de R$ 4. Depois disso, a pandemia, a variação do petróleo e as incertezas políticas fizeram a moeda disparar, chegando a R$ 5,80, em alta de 45%, e a Bolsa de Valores cair até a decretar diversos circuit breaks (interrupção dos negócios).

Outro comparativo: há cinco anos, em 2015, a moeda americana valia R$ 3,96. Desde então não para de subir. Daqui cinco anos, em 2025, quando o próximo prefeito começar a pagar essa conta, alguém aposta que estará maior do que o patamar atual? Mas o juro baixo compensa, segundo os técnicos do IPPUC.

Aposta da Prefeitura de Curitiba, moeda americana apresentou altas nos últimos cinco anos. Grafico: Tranding View

Dinheiro pra ônibus

Na justificativa do prefeito enviada à Câmara Municipal, os quase meio bilhões de reais serão destinados a obras em corredores de ônibus, especialmente no corredor BRT Leste – Oeste e o Sul. Segundo Greca, a aposta é de que esse investimento atraíra os motoristas de carro para o transporte coletivo com a redução do tempo de viagem. A mensagem, no entanto, não apresenta outras alternativas de mobilidade para os curitibanos como novas vias para bicicletas, metrô, a pé ou outras formas de locomoção.