Média móvel por Covid-19 no Paraná ainda é altíssima

Prefeito e governador usam queda no pico para aparentar controle sobre o coronavírus





Em campanha política, Greca acelera fim do isolamento social. Foto: Jose Fernando Ogura

Tornou-se hábito falar em média móvel para tratar de contaminações e mortes por Covid-19. Com estatísticas em baixa, fica mais “confortável” para gestores públicos e empresários adotarem medidas que colocam fim ao isolamento social. Se o primeiro pico já passou, o problema é que a “maquiagem” dos números esconde uma taxa ainda elevadíssima de contágio. É o que vemos neste Fio da Meada.

PARA FRANCÊS VER | Nova York, Madri e Paris já falam em fechar novamente serviços não essenciais, comércio e escolas para evitar uma segunda onda. Por essas cidades, a falta de leitos e o aumento do contágio ligaram o sinal de alerta. “Detalhe”, a França tem 636 mil casos confirmados. Apenas São Paulo tem 1 milhão.

PARA FRANCÊS VER II | A França registrou quase 14 mil casos no começo de outubro. Paris está tendo 260 novos casos para cada 100 mil habitantes e a taxa de ocupação dos leitos é de 36%. Aí se compara com o Paraná e Curitiba. O estado tem 62% dos leitos de UTI para Covid ocupados e 45% de leitos em enfermaria. Nessa lógica, fecha tudo.

REPROVADO NA MÉDIA | A queda na contaminação tem sido usado como argumento para adotar regras de “liberou geral” no Paraná e em Curitiba. No entanto, quando os casos disparam, qualquer redução pode trazer alívio. Mas a tal média móvel mostra índices elevadíssimos.

PERDEU DE POUCO | O Governo do Paraná, por exemplo, destacou ontem (5) a redução de 17,5% dos casos em relação a 14 dias atrás. O dado, isolado, estimula o relaxamento das medidas de proteção. O problema é que há duas semanas o estado atingia o pico de contaminação. É o time que perde de 2 a 0 comemorando que não levou 4 gols. Parece bom, mas é ruim.

Média de contaminação no Paraná apresenta índice elevados. Fonte: Secretaria de Saúde do Paraná

DADO IDEAL | Olhando a média móvel, o estado está muito longe dos números de contaminação de abril e maio, quando adotou o isolamento social, o fechamento de serviços não essenciais e a média não chegava a 500 na semana. Depois, o governo foi flexibilizando e a curva crescendo.

Queda de 30% nas mortes esconde que óbitos ainda são altos. Fonte: Secretaria de Saúde do Paraná

DADO IDEAL II | O mesmo diagnóstico vale para as mortes. Segundo o estado, elas caíram 30% em relação aos últimos 14 dias. Mas se olharmos a planilha inteira, se está na mesma situação do começo de julho. Ou seja, a situação ainda é grave.

CURITIBA BANDEIRA CINZA | É em Curitiba que a manipulação dos números fica mais evidente. Na cidade, a bandeira amarela, sabor laranja, tem situações de vermelha e é tratada como cinza por conta da campanha eleitoral. Se fosse Paris, fechava. Mas é República de Curitiba, então, reabre.

TÁ CONTAMINANDO | Dentro da lógica de números, o município teve crescimento no “Nº de internados por SRAG em UTI e Nº de Pacientes COVID-19 (Confirmados) em leitos UTI”. Aí é bandeira laranja. Teve também crescimento no “Nº de confirmados nos últimos 7 dias para cada 100.000 habitantes e Nº de Óbitos nos últimos 7 dias para cada 100.000 habitantes”. É vermelho cor cinza.

Diferente de Paris, mesmo com aumento da incidência de casos e mortes, Curitiba não fala em fechar atividades. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde

SOMA ERRADA | Curitiba adota pontuação para definir a cor da bandeira. 0 a 1: amarela. 1 a 2, laranja. Acima de 2, vermelha. Dos 9 indicadores, dois bateram acima de 5,25 (vermelho) e dois acima de 1 (laranja). E ainda tem um indicador (capacidade de atendimento) que está acima o 1, mas não foi para o laranja. Mesmo assim, a média final de 1,78 mostra que a cidade está mais próxima do laranja do que ficar no amarelo.

BRASIL TOP 3 | Aliás, o país que quer retomar a vida normal é o 3o colocado no mundo no ranking de contaminação. Com 4,9 milhões de casos, o Brasil (209 milhões de habitantes) só perde pros EUA (328 milhões de habitantes) com 7,4 milhões de casos e para a Índia (1,3 bilhão de habitantes), que tem 6,6 milhões de contaminados. Proporcionalmente, somos “líderes”.

Brasil TOP 2 | No quesito mortes perdidas, o Brasil, com ⅙ da população da Índia, já está em segundo lugar. São 146 mil mortes contra 103 mil dos indianos. Vidas perdidas que mostram que o Covid-19 não é uma gripezinha, como diz Bolsonaro e o presidente Trump, das mais de 210 mil mortes.