O grau de importância da conservação da biodiversidade no Governo do Estado do Paraná

A gestão da biodiversidade em território paranaense nunca teve um atendimento minimamente adequado. Tanto em função da falta de uma política séria nesta área, como pelo fato de que os órgãos ambientais vêm sendo desestruturados paulatinamente há cerca de 30 anos




FonteRede de ONGs da Mata Atlântica

Propaganda do Governo confunde ave símbolo do Paraná

Ao permitir o uso equivocado em material de propaganda de uma espécie de ave ocorrente no hemisfério norte em vez de nossa gralha-azul, o Governo do Paraná acaba demonstrando o quanto está realmente preocupado com a agenda da conservação da biodiversidade.

Não se pode tratar desse vexame exposto em outdoors em uma campanha estatal como fato isolado. Ao contrário: o deslize retrata com bastante precisão a falta de estrutura e desrespeito a parâmetros técnicos mínimos. Parâmetros que seriam atendidos prontamente se os profissionais da área fossem, ao menos, consultados. O que suscita predileção por medidas superficiais e de cunho tecnicamente contestável, de viés preponderantemente político. E que buscam manter as aparências, sem gerar mudanças efetivas.

Revisões de matérias sobre o tema da conservação devem ser de responsabilidade dos profissionais especializados que ainda estão atuando nas estruturas sucateadas de nossa gestão ambiental, o que, aparentemente, não ocorreu neste caso. Mas o fato ocorrido serve, primordialmente, de oportunidade para explicitar um cenário muito mais sério do que uma propaganda malfeita.

A realidade é que a gestão da biodiversidade em território paranaense nunca teve um atendimento minimamente adequado. Tanto em função da falta de uma política séria nesta área, como pelo fato de que os órgãos ambientais vêm sendo desestruturados paulatinamente há cerca de 30 anos – quando houve a última contratação nas autarquias hoje existentes.

A predileção preponderante para as atividades de licenciamento gerou cada vez mais passivos na condição de dar respostas a uma agenda de conservação, seja na criação, estruturação e gestão de Unidades de Conservação estaduais, seja no monitoramento de espécies endêmicas e ameaçadas, no controle da contaminação por espécies exóticas, na manutenção de centros de triagem de animais selvagens, estrutura e pessoal para atender a incêndios, nas ações de fiscalização e controle, no combate ao desmatamento, caça, extrativismo espoliativo, dentre outras responsabilidades que nunca estiveram nas prioridades das esferas governamentais.

Com apenas um punhado de profissionais mais experientes e com alta qualificação técnica ainda oriundo da contratação de três décadas passadas, todos em vias de aposentadoria, fica cada vez menos provável uma mudança de cenário, pois não existe de parte do Governo do Estado o entendimento correto sobre a importância da manutenção do patrimônio natural. Podemos afirmar que as condições atuais de trabalho seguem na direção de falência, a despeito de esforços valiosos que o contingente limitado de profissionais consegue ainda atender.

Vivemos no Paraná uma negligência crônica que ignora o fato de que a conservação representa uma condição fundamental para a provisão de serviços ecossistêmicos, como a água, a proteção dos solos, o equilíbrio do clima, a polinização da agricultura e assim por diante. Além da falta de mecanismos para a proteção de áreas naturais em condições adequadas para exploração de atividades de turismo.

O extemporâneo “Steller’s Jay” exposto em cartazes pelas ruas das cidades paranaense é um caso simbólico, mais do que tudo. Comprova o despreparo e a falta de seriedade com a qual o tema da conservação é percebido no poder público. E também é um reflexo evidente da falta de pressão da sociedade em relação à proteção adequada de áreas naturais.
Na verdade, o que ocorre, ao invés disso, são constantes pressões dentro do Legislativo e Executivo paranaenses para avanços ainda maiores sobre o pouco que ainda resta de natureza conservada, nos credenciando, inclusive, à condição de campeões do desmatamento entre os estados da Mata Atlântica.

As alegações de que ainda precisamos “destruir para desenvolver” é a máxima que continua sendo assimilada como verdade dentro das instâncias mais altas de poder do executivo paranaense, gerando, por consequência, um empobrecimento constante e, muitas vezes, irreversível de nosso patrimônio natural, tão rico e diversificado.