Secretaria de Saúde, Associações e Unimed negam segunda onda e atribuem contaminação à população

Gestores e Greca se isentam de responsabilidade, mesmo adotando protocolos de exposição viral





Foto: CMC

Curitiba viu quadruplicar os números de novos casos de Covid-19 em novembro, atingir a maior média de contaminados em uma semana, e a culpa é da população. Pelo menos é o que afirma uma carta conjunta assinada pela Secretaria de Saúde, Associações e Plano de Saúde, o recorde de novos contaminados pelo quarto dia seguido é resultado do relaxamento das medidas de isolamento social e o fato de o povo ter aproveitado o Feriado de Finados. A nota conjunta em nenhum momento cita que quem define os protocolos de isolamento é o poder público e que este mantém a bandeira amarela artificialmente, mesmo o sistema de pontuação indicando que a cidade deveria ter adotado a bandeira laranja com mais restritivas como fechamento do comércio antes do primeiro turno da eleição. O prefeito Rafael Greca também culpou o povo e o feriado.

A capital do estado bateu hoje (20) a marca dos 1409 novos casos. No dia 13, antevéspera da eleição e já com pontuação em 1,80 (bandeira laranja), já haviam sido registrados 749 novos casos em uma média que se mantinha diariamente acima dos 700 registros. Nessa época, o prefeito Rafael Greca decidiu que a bandeira não seria mudada e que nenhuma medida mais austera seria tomada. Uma semana antes, em 6 de novembro, Curitiba pontuava 436 casos.

Contudo, para a nota da Secretaria de Saúde de Curitiba assinada pelos Associação Médica do Paraná (AMP), Associação dos Hospitais do Estado do Paraná (AHOPAR), FEHOPAR, SINDPAR e Unimed Curitiba, o crescimento geométrico é resultado da curtição da população.

Curitiba atingiu maior índice de contaminados em uma semana. Fonte: Secretaria de Saúde

“Esta não é a “segunda onda” da doença no Brasil, como está acontecendo nos
países da Europa. Esse é o tsunami que se formou da primeira onda e muita gente
preferiu estar na praia”, afirma a nota “Curitiba em estado de alerta“.

O texto conjunto ao afirmar que não existe uma segunda onda ignora os gráficos da Prefeitura de Curitiba e da Secretaria Estadual de Saúde que mostram um recuo na contaminação. O momento é de continuidade e de responsabilidade do povo que decidiu sair do isolamento.

Recuo nos casos foram parados após aumento da exposição social. Gráfico: SESA

“O principal motivo do avanço da doença foi o relaxamento no comportamento das
pessoas. As pessoas perderam o medo da doença. As pessoas não se importam em
contaminar outras pessoas, contando que se sintam bem. As pessoas querem
“aproveitar a vida” e ignoram a morte”, censura a nota.

O prefeito Rafael Greca, em coletiva de imprensa, também responsabilizou a sociedade pelo aumento dos casos. “A pandemia não acabou, o vírus não foi embora e a sociedade abriu a guarda dos cuidados sanitários. Precisamos que as pessoas usem máscara, higienizem as mãos, e principalmente, evitem aglomerações”, disse Greca.

Prefeito Rafael Greca e a secretária da Saúde, Marcia Huçulak participam de coletiva de imprensa sobre as ações do município no combate ao covid-19. Curitiba, 20/11/2020. Foto: Pedro Ribas/SMCS

“Não é minha responsabilidade”

A nota não menciona, por outro lado, as ações das autoridades que relaxaram o isolamento e estimularam as pessoas a retornarem ao trabalho presencial. Um exemplo é a decisão da secretaria Márcia Huçulak nesta semana que autorizou o retorno das aulas presenciais em escolas particulares para crianças menores de 10 anos mesmo com os números em alta como mostra a reportagem “Por precaução, Curitiba suspende cirurgias e manda crianças para escolas”.

A Secretaria, Associações médicas e Unimed também omitem que foi decisão do Governo do Paraná e da Prefeitura de Curitiba não estender o isolamento social adotado em julho por 14 dias. As decisões do governador Ratinho Junior (PSD) e Rafael Greca (DEM) foram no sentido contrário. Em 15 de julho, o Paraná batia recordes de contaminação e de mortes confirmadas, no entanto, o estado decidia não prolongar o fechamento do comércio por mais 14 dias. Já o prefeito Greca, uma semana depois, em 22 de julho, decidiu ignorar os números da Covid-19 na capital, os protocolos de saúde e as recomendações médicas e editou o Decreto 940 que adota praticamente o liberou geral. Foi nesta época que mesmo com a bandeira laranja as autoridades liberaram a reabertura de shoppings e academias e até alteraram o protocolo de bandeiras para manter o comércio aberto após pressão da Associação Comercial do Paraná (ACP) como mostra a reportagem: 

Quase sem leitos de UTI, Greca libera quase tudo

Ambos gestores ainda mantiveram o transporte público funcionando normalmente e ainda terminaram os cofres das empresas de ônibus com mais de R$ 232 milhões. Mas, para a nota, “Só o seu comportamento responsável é capaz de controlar o avanço acelerado da COVID-19”.