A vitória do SUS e de Dória

Início da vacinação simbólica traz esperança aos brasileiros





Após autorização da Anvisa, São Paulo inicia vacinação. Foto: Govesp

O dia D, na hora H foram antecipados pelo governador de São Paulo, João Dória (PSDB), após a Anvisa autorizar nesse domingo (17) a vacinação emergencial no país com a vacina chinesa Coronavac, produzida no país pelo Instituto Butantan, e a AstraZeneca, que será importada da Índia e produzida pela FioCruz. E a primeira vacinada foi uma enfermeira negra e trabalhadora do SUS. Outra mensagem simbólica que reforça o papel do Estado e da saúde pública no momento.

A vacinação ocorrida em São Paulo foi considerada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, uma jogada de marketing. Diagnóstico correto. Faltou dizer que a “vacinada” promovida por Dória foi bem recebida pela população brasileira. As pessoas entenderam que era um ato simbólico e se encheram de esperança de que logo elas possam também serem vacinadas.

Bem diferente de um cenário em que a “falta de um dia D e de uma hora H”, segundo o próprio ministro Pazzuelo, deixasse claro quando se iniciaria a vacinação dentro do Plano Nacional de Imunização. Agora, Pazzuelo que está comprando a “vacina vermelha”, e Bolsonaro, que deve virar jacaré, tem que correr atrás da agenda positiva criada por Dória. O presidente não vai querer vacinar por convicção, mas por votos.

Bolsonaro posa para plano de vacinação sem data para início da imunização. Foto: Isac Nóbrega/PR

Aliás, não há nada de novo em jogadas de marketing na política. É costume entre os políticos inaugurarem pedras fundamentais de obras, cortarem faixas de obras que eles não construíram, como Bolsonaro fez na transposição do Rio São Francisco, ou posarem para fotos sem ao menos terem um projeto claro, como o presidente fez sobre a campanha de vacinação dias atrás. O problema, neste caso da vacina, é que Dória passou a perna em Bolsonaro. Neste sentido, a resposta do governador de São Paulo, de que Bolsonaro promove o marketing do golpe de morte em mais de 210 mil brasileiros foi ainda mais impactante.

Além do governador paulista, a vacinação de ontem foi uma vitória do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde a PEC do Teto de Gastos, a Saúde tem recebido cada vez menos investimentos. O próprio Governo Federal tentou – e foi impedido – de privatizar o SUS com o Decreto 10530, que entregaria à iniciativa privada a administração de Unidades Básicas de Saúde. Agora, acuado, o ministro da saúde e o filho do presidente, o senador investigado Flávio Bolsonaro, destacaram – mentirosamente – que as vacinas do Butantan utilizadas ontem foram financiadas pelo SUS e pelo PNI.

Fora da guerra política, o ato mais simbólico no combate a Covid-19 foi a vacinação da enfermeira Mônica Calazans. Ela, que é negra, trabalha no Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, e está na linha de frente no combate ao coronavírus há pelo menos 10 meses. Ela enfatizou a importância do momento. “Estou há 10 meses trabalhando em dois hospitais e só posso dizer que não tenham medo. É a nossa grande chance para salvar vidas”, incentivou.