Ratinho Junior leva chapéu da Sputinik V e fica dependente da ajuda do Governo Federal

Estado saiu de produtor de vacina, dando lugar a laboratório que pretende exportar parte de sua produção





Foto: Rodrigo Félix Leal

Em setembro de 2020, o Paraná assumia o protagonismo no Brasil ao negociar com a China e com a Rússia a possibilidade de ser produtor de vacinas no combate a Covid-19. O Governo do Estado comemorava o fato  de ter sido anunciado os resultados preliminares positivos da vacina russa Sputnik V na revista científica The Lancet. Naquela época, o Governo do Paraná dizia que ia submeter “o protocolo de validação da fase 3 de estudos clínicos no País à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) até o final de setembro”.

E não era só isso. O Paraná também estava negociando diretamente com a China para produzir a Coronavac em solo paranaense, via Tecpar. Era um protagonismo que retiraria o estado da agora dependência das vacinas do Governo Federal que estão sem data e hora para chegar ao Brasil. 

Em resposta à ofício do deputado estadual Tadeu Veneri (PT), a Secretaria da Casa Civil explicava a estratégia. “O Governo do Paraná formalizou um Termo de Confidencialidade com a China que prevê a possibilidade de explorar oportunidades de colaboração entre os dois países com relação à vacina. Com a Rússia foi assinado um Memorando de Entendimento para ampliar a cooperação técnica, as transferências de tecnologia e os estudos sobre a vacina contra a Covid-19. O acordo deixa aberta a possibilidade de realização de testes, produção e distribuição do imunizante”.

Levando o chapéu
Agora, o que aconteceu? Por que o estado não está produzindo as vacinas via TECPAR, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná – IBMP e o Instituto Carlos Chagas – ICC que é a unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ no Paraná? E onde foi parar os R$ 100 milhões vindos da Assembleia Legislativa que o “governo antecipou para garantir recursos para a aquisição e distribuição de vacinas encaminhando uma emenda ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de 2021?”. São perguntas, por hora, sem resposta.

O governo mudou o discurso e disse que a Sputnik, que agora é produzida na Argentina, não havia passado pela fase 3. Mas não é bem assim. Essa fase é justamente aquela que conta com a participação das universidades locais e laboratórios públicos com estudos e testes realizados pelos funcionários e voluntários.

Negócios particulares x interesse público

Nos bastidores, por outro lado, a desistência do estado em produzir a vacina para atender a população paranaense contaria com interferência política – o pulo do gato – de um deputado federal paranaense para que um laboratório particular produzisse a Sputnik em solo brasileiro (mas não no Paraná) para ser exportada. Coincidência ou não, a União Química Farmacêutica nacional S/A está assumindo o protagonismo da vacinação em solo nacional e negociando com a Anvisa.  

Em entrevista a Rádio Bandeirantes, o presidente do Grupo União Química, Fernando de Castro Marques, destacou a eficiência da Sputnik V. “A Rússia nos disponibilizou 10 milhões de unidades para março no Brasil e para fornecer para América Latina, conforme nosso contrato”, admite.