Líder de Greca admite que situação é de bandeira vermelha

Pier disse que cidade sofre influência de lobby do comércio





Vereador Pier Petruzziello. Foto: Rodrigo Fonseca/CMC

O líder do prefeito na Câmara Municipal de Curitiba, Pier Petruzziello (PTB), admitiu em sua conta no Twitter que a situação atual na cidade é para bandeira vermelha. A postagem foi feita no dia 9 de março, antes de uma audiência na CMC pra tratar dos riscos do contágio. Mesmo com aumento da contaminação e das mortes, o prefeito Rafael Greca (DEM) flexibilizou as medidas de distanciamento social adotadas na semana passada que colocavam o município na bandeira vermelha, embora mantivesse o protocolo laranja. A bandeira artificial sofre com lobbies das empresas de ônibus, Associação Comercial do Paraná e do Sindicato das Escolas Particulares.

Vereador admitiu que bandeira laranja é mantida artificialmente

A postagem, que posteriormente foi deletada, dizia: “Para que vocês entendam; bandeira laranja só é laranja porque o comércio vai abrir. Mas a realidade é que a bandeira já passou da vermelha! Essa é a verdade”, admitiu.

É o que avalia o pesquisador e biólogo do INPA, Lucas Ferrante, que mostrou números catastróficos caso Curitiba não adote um lockdown de verdade por 21 dias. Para ele, “Curitiba deveria estar na bandeira vermelha. Essa é uma situação ilusória. Causa uma falsa sensação para a população e deixa as pessoas ‘confortáveis’ para sair às ruas. A Prefeitura deu declaração dizendo que não ia acontecer. Mas se pode mostrar uma situação pior”, explica.

Boletim de Curitiba indica baixo risco para 88% de leitos de enfermaria ocupados

Um dias após a postagem deletada de Pier, ele escrevia que “nossas UPAs agora são apenas Upas Covid. Isso aumenta a capacidade de resposta rápida ao atendimento de urgência e emergência dos contaminados pelo vírus”!.

Essa foi a estratégia adotada pela Prefeitura de Curitiba para que o Boletim com o Sistema de Bandeiras fosse mantido artificialmente na cor laranja. Apenas o último indicador foi mantido em 1 (bandeira amarela). É o que trata dos leitos de enfermaria para Covid-19. 88% de ocupação. Mas para a Greca e sua equipe, fator de risco baixo.

Posse de Camilo Turmina, novo presidente da Associação Comercial do Paraná. Foto: Arnaldo Alves / AEN.

Greca cede a pressão de comércio, escolas particulares e empresas de ônibus

Dois dias após a postagem do líder do governo admitindo o lobby do comércio, Curitiba registrou 1355 novos casos e 26 mortes. Mesmo assim, permanece na bandeira laranja. Pelo menos três setores têm pressionado à prefeitura a não decretar a bandeira laranja: o transporte coletivo, a ACP-PR e o Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR).

As escolas particulares chegaram a entrar na justiça para que as aulas presenciais fossem mantidas e realizaram protestos em Curitiba. Com isso, conseguiram que pudessem receber 35% dos estudantes em sala de aula.

Já no ano passado, a Associação Comercial do Paraná pressionava Greca e o governador Ratinho Junior para que pudesse funcionar em qualquer momento da pandemia. Há quase um ano, Greca atendia o lobby da ACP e ia reabrir o comércio. A entidade até escondeu resultado de pesquisa contratada por ela em que a população era favorável ao isolamento social. Atualmente, a ACP diz que “o setor reafirma seu compromisso de seguir com o máximo rigor os protocolos sanitários, sabendo-se de antemão que o comércio é um ambiente seguro e controlado, onde é possível manter o devido distanciamento”.

Outro setor que resiste a um lockdown completo é do transporte urbano. Os empresários receberam mais de R$ 300 milhões de incentivo durante a pandemia e nunca pararam. Atualmente são criticados por promover aglomerações dentro dos ônibus. Tanto que a vereadora professora Josete (PT) acionou o Ministério Público “pedindo providências em relação a omissão e ausência de fiscalização das denúncias de superlotação em ônibus e terminais do transporte público por parte da Urbanização de Curitiba (Urbs)”.