Paraná deve retomar aulas presenciais vacinando apenas 40 mil dos 120 mil profissionais

Sindicato diz que o estado não está pronto para retornar neste momento





Governador anuncia vacinação e retorno das aulas

O governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, confirmou que a vacinação no estado entra na fase de vacinação das pessoas com comorbidades e profissionais da educação. Serão apenas 32 mil doses para profissionais municipais, estaduais e do ensino privado nesta semana. As aulas presenciais híbridas serão retomadas a partir do dia 10 de maio. Serão cerca de 200 escolas, o que representa 10% da rede. O retorno é criticado pelo sindicato da categoria. Segundo a APP Sindicato, o governo está descumprindo sua promessa de volta às aulas somente após a vacinação de todos os profissionais. Para a entidade, não existe protocolo seguro. O governo está “desviando” vacinas que seriam aplicadas no grupo com comorbidades, segundo o Plano Nacional de Imunização. 

“Estamos chegando a 40 mil profissionais da educação (com a primeira dose) para tentar avançar no retorno das aulas, principalmente nas regiões onde o índice de infecção está abaixo da normalidade e onde está preparada essa logística”, disse o governador.  O primeiro lote abrange profissionais com idade de 55 anos. Posteriormente, por idade e os profissionais que retomaram ao ensino presencial, mesmo sem terem sido vacinados.

Segundo o governador, a necessidade de voltar às aulas está sendo planejada desde fevereiro e é um desejo de parte da comunidade escolar. “Estamos vendo uma pressão psicológica dessas crianças e um aumento de agressão de crianças dentro da escola. E a escola ajuda a monitorar esse relacionamento por meio dos Conselhos Tutelares”, diz Ratinho Junior. Segundo ele, um estudo realizado em 21 países mostra que a escola não é o principal local de transmissão do vírus.

Educação em modelo híbrido

O retorno de parte das aulas presenciais acontece a partir do dia 10 de maio. Serão 10% da rede e até 200 escolas. As selecionadas foram baseadas na vontade da direção e nas regiões onde existem dificuldades de acesso à internet. 

De acordo com o governo, 100 municípios do estado já retomaram as aulas na rede local. O secretário de educação Renato Feder disse que todas as escolas que retornarem neste momento seguirão protocolos como distanciamento, uso de álcool gel, medição de temperatura e autorização dos pais.

“A escola vai funcionar no modelo híbrido. Metade dos alunos irão numa semana e a outra na outra semana. Quem ficar em casa, acompanha as aulas ao vivo, que acontece na sala e será transmitida pelo notebook que está na sala de aula. Tudo isso gratuitamente, pois o estado paga a transmissão de dados”, esclarece o secretário. Segundo o secretário, conforme aumentar a vacinação, as escolas serão reabertas.

Secretário de Saúde afirmou que profissionais receberão doses das vacinas que chegarem nos próximos lotes

Já o secretário de saúde, Beto Preto, esse trabalho estava preparado para acontecer em fevereiro, mas foi adiado devido a CEPA amazônica.

“Passamos 60 dias de um combate diário, principalmente ampliando leitos até 4 mil leitos apenas para tratar a Covid-19. Abrimos leitos em Pronto Atendimento nos municípios que nos ajudaram a sustentar a fase mais dura. 

Segundo Beto Preto, a queda da contaminação e das mortes serve de justificativa para poder reabrir as escolas. Um decreto novo foi editado para permitir a ocupação das salas de 30% para mais. “Estamos trabalhando com a metragem quadrada, o que permite aumentar a quantidade de alunos.O retorno às aulas tem metodologia sendo planejada há um ano. A sociedade quer o retorno às aulas”, argumenta o secretário.

Paraná tem mais de 200 mil profissionais de educação

O Paraná tem pelo menos 169 mil trabalhadores em educação  e mais e 50 mil via ensino privado. Para o secretário de saúde, o foco inicial já está definido no ensino infantil e fundamental. “Nós entendemos que o quadro é maior, pois inclui todos os profissionais da educação, como administrativos, trabalhadores de escola”. Mas, segundo Beto Preto, muitos profissionais já foram vacinados na primeira fase com base na vacinação de pessoas acima de 60 anos. “Temos uma diferença de 78 mil pessoas com os números do Governo Federal”. 

Não há protocolo seguro para retorno das aulas presenciais neste momento”, afirma pesquisador

A APP-Sindicato  não é favorável ao retorno presencial das aulas neste momento. Presente em mais de 200 municípios, a entidade avalia que “não há condições estruturais nas escolas para qualquer retorno” devido a falta de profissionais para o devido acompanhamento dos estudantes. “O governo demitiu, na última sexta (30), cerca de 8 mil funcionários”, recorda o sindicato.

A entidade ainda baseia sua posição contrária nos  dados que mostram que a pandemia não acabou. “A circulação de cerca de um milhão de estudantes (somente da rede estadual) e 120 mil profissionais provocará ainda mais contaminação. Boa parte destes alunos convive com pessoas do grupo de risco. O governador anunciou que só retomaria as aulas com a vacinação de profissionais da educação”, compara a APP Sindicato. 

Mas, de acordo com o governador, muitos profissionais da educação já receberam a vacina, por isso o retorno será feito simultaneamente.

“Nós não podemos esperar que todos os profissionais da educação sejam vacinados em 30 dias, pois dependemos da chegada da vacina. Isso será feito gradativamente. Podemos fazer de forma controlada”, diz o governador. 

 

Para Beto Preto, conforme a vacina chegue no estado, parte da carga será deslocada para vacinar profissionais da educação. “Estamos usando uma carga maior para causar impacto”, admite.

Por outro lado, especialistas e pesquisadores dizem que não há tendência de queda nos números da pandemia e que, por conta da vacinação estar em um ritmo ainda muito lento, há uma tendência de surgimento de outras variantes do vírus ainda mais resistentes. O caminho, segundo estes especialistas, é um lockdown definitivo de, pelo menos, 21 dias e aceleração do ritmo da vacinação.

“Não há protocolo seguro para retorno das aulas”, afirmou Lucas Ferrante, pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – ligado à FIOCRUZ). Ele afirma que ainda não é o momento dessa retomada e que, caso o governo insista nisso, as consequências serão o aumento do número de casos e de mortes em um curto espaço de tempo.