O Governo do Paraná anunciou o retorno das aulas presenciais em formato híbrido para 10% da rede (200 escolas). A volta contraria a própria afirmação do governador Ratinho Junior (PSD) de que as escolas só seriam reabertas após a vacinação completa dos profissionais da educação. Agora, o governo que vai imunizar 40 mil dos 120 mil profissionais apenas da sua rede, sustenta que o retorno é seguro devido aos protocolos de segurança, mesmo o estado apresentando números de contaminação e mortes semelhantes a fevereiro de 2021, quando o retorno foi adiado. Para a APP Sindicato, a decisão abre uma janela para novos focos de contaminação.
Na coletiva de imprensa em que anunciou o retorno das aulas, o governador sustentou a volta em dois argumentos: no desejo da comunidade escolar e em um estudo realizado em 21 países (mas que não foi apresentado à imprensa) afirmando que as escolas não são foco de contaminação.
Por outro lado, o presidente da APP Sindicato, Hermes Leão, desconfia desses dados. Segundo ele, a ciência não é neutra e não respalda as justificativas do Governo do Estado. Ela pode ser utilizada atendendo interesses políticos.
“Na pandemia, temos assistido afirmações vindas, inclusive, de profissionais da saúde preocupantes. Nós temos sustentado o debate que a retomada de aulas têm desencadeado em novos ciclos de contaminação”. A entidade segue definindo a adoção de medidas mais rígidas.
O sindicato avalia que o governador do Paraná recuou em sua palavra com relação à vacinação dos profissionais das escolas. “Só voltaríamos com os profissionais vacinados”, dizia o governador. Ontem (4), “ele modificou completamente esse entendimento. E se sustentou em um “desejo” de retorno da comunidade escolar, pais, professores”, recordou Hermes. Por outro lado, o desejo deve ser protegido pela segurança da vacinação. “Nós não podemos nos pautar pelo desejo, mas em estudos científicos que garantam a retomada das aulas com segurança”, complementa.
Hermes destacou que o trabalho remoto está gerando um desgaste muito grande da categoria que está neste sistema há pelo menos um ano. A entidade tem detectado grande adoecimento devido à alta carga de trabalho no virtual, mas esse fator não pode substituir pelo retorno presencial. Hermes questionou os cálculos do secretário de saúde, Beto Preto. “Eles colocaram as três redes: estadual, municipal e particular para a vacinação. Esse grupo soma cerca de 390 mil pessoas. Vacinar 32 mil pessoas o que demora 90 dias, é colocar os profissionais em risco de contaminação”, alerta.
Transferência de responsabilidades
A APP Sindicato chamou atenção para a transferência de responsabilidades. Na coletiva, o Governo do Estado passou para os prefeitos, direções escolares e pais a responsabilização por surtos de contaminação. O retorno está sendo programado com o Governo do Estado afirmando que as pessoas devem assinar termo de responsabilidade. O sindicato, por outro lado, tem orientado ao não retorno, principalmente quando não há garantias de saúde.
Números elevados
Os índices de contaminação no estado são semelhantes a novembro do ano passado. Já a média de mortes ainda está acima dos níveis de fevereiro deste ano, quando a saúde no estado entrou em colapso. No Boletim divulgado na terça-feira, o estado contabilizou 316 óbitos, sendo o terceiro com mais mortes no país. O Paraná já recebeu 3.816.660 de doses, aplicou 2.860.817 de doses, sendo na primeira 1.836.634 e 1.024.183 na segunda.
O estado está com taxa de ocupação de 92% dos leitos de UTI e 68% de enfermaria. Segundo Walquiria Mazedo, da coordenação da APP Sindicato, “o Brasil vive um momento duro da pandemia com as 411 mil mortes e as 23 mil mortes apenas no Paraná”. Ela ainda questionou a decisão do governo estadual de retomar aulas híbridas nesta fase.