Curitiba repete erros e flerta com bandeira vermelha novamente

Sem vacinas, Paraná flexibiliza o isolamento e expõe pessoas a aglomeração social como aulas presenciais





Prefeito Rafael Greca no centro de vacinação. Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Após longo período de lockdown, Curitiba está flertando novamente com a adoção da bandeira vermelha e de critérios mais rígidos de isolamento social. A cidade repetiu os mesmos erros que a levaram ao descontrole da pandemia: permissão do retorno às aulas, flexibilização do comércio e ampliação do horário de atendimento, aumento da capacidade do transporte coletivo e decisões que estimularam a aglomeração social como a permissão de todo o comércio, bares e restaurantes abertos no Dia das Mães. Agora, o município já tem 92% dos leitos de UTI ocupados, aumento de quase 25% na média móvel de casos e disparo nos casos ativos.

No fim de abril, a cidade parecia ter controlado a pandemia. A cidade registrava 595 novos casos e cerca de 6 mil casos ativos. Curitiba vinha reduzindo a circulação do vírus e poderia, em breve, retornar para a bandeira amarela. No entanto, uma série de decisões do prefeito Rafael Greca (DEM) foram flexibilizando a reabertura de atividades não essenciais e a circulação de pessoas. O ápice dessas decisões foi o feriado de Dia das Mães, em 9 de maio, quando foi permitido a reabertura de todo comércio, inclusive no domingo. 

Neste Dia das Mães, não tenha dúvida: o melhor presente que você pode entregar é o seu amor em forma de cuidado! Elas, que sempre prezam por nossa proteção, merecem nossa atenção! Continue seguindo todos os protocolos, evite ter muita gente dentro de casa e mantenha o ambiente bem ventilado”, postou a Prefeitura em suas redes sociais. Nesta época a cidade já tinha 6,9 mil casos ativos e estava às vésperas de ver retorno em algumas escolas públicas estaduais aprovado pelo Governo do Paraná, mesmo sem a vacina para os profissionais da educação.

O governador Carlos Massa Ratinho Junior atende a imprensa nesta terça-feira (4) para falar sobre o retorno gradativo das aulas presenciais na rede estadual de ensino.
Curitiba, 04/05/2021. Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Mesmos novos erros

Sem o avanço da vacina, com Curitiba tendo que diminuir e paralisar o ritmo da imunização, a gestão municipal novamente ignorou os alertas como o feito pela Nota técnica: Avaliação da pandemia de COVID-19 no estado do Paraná, necessidade de manutenção de medidas até avanço da vacinação”, promovida pelo INPA e que acertou a previsão em março de que a capital iria entrar em colapso de saúde.

Neste novo comunicado, o INPA diz que o relaxamento do isolamento social, antes da redução significativa do número de casos de COVID-19, é apontado como causa para a ocorrência de novas ondas, com aumento do número de casos, internações e óbitos.

“Observa-se nitidamente, a partir dos dados, que a resposta dos tomadores de decisão, ao implementar medidas de contenção ou ao adotar uma postura negacionista relativo ao isolamento social, se reflete diretamente na continuidade ou na atenuação da pandemia”, comenta o biólogo Lucas Ferrante.

Curitiba se encontra no nível de alerta 2. A média móvel cresceu 24,8% nos últimos 7 dias e está ainda sem sentir os efeitos do Dia das Mães. Nos indicadores da Prefeitura, a velocidade do avanço da contaminação está em 1,11, indicando índice 2, e a propagação tanto para os casos como para as mortes estão na bandeira vermelha. Curitiba está novamente quase sem leitos para decretar novamente bandeira mais restritiva.

Para o estudo do INPA, em parceria com UFMG, UFAM, UFSJ, diante da eficiência de medidas restritivas e do pouco avanço da vacinação do estado do Paraná,  pode ocorrer novo aumento de casos, internações e óbitos, mesmo em municípios que estão apresentando recrudescimento da pandemia, devido ao afrouxamento de medidas restritivas e à adoção de medidas que aumentem a circulação viral, como o retorno das aulas presenciais.