A bancada negacionista na Câmara Municipal

Vereadores atuam para manter escolas e comércio abertos, adotar Kit Covid comprovadamente inúteis e impedir isolamento social





Foto: CMC

O negacionismo com relação à pandemia de Covid-19 não é um “privilégio” do presidente da República e de seus eleitores. Em todas as esferas de poder têm seus representantes. E, na Câmara Municipal de Curitiba não é diferente. Por lá, a Bancada do Negacionismo reproduz o discurso de Bolsonaro de que é preciso priorizar a retomada da atividade econômica, independente do estágio e do caos da pandemia.

Essa bancada é formada por vereadores da “turma evangélica”, que querem templos abertos a todo custo e, principalmente, por representantes do neoliberalismo brasileiro que colocam a “liberdade comercial” à frente do direito à vida.

É essa bancada que defende com unhas e dentes o retorno das aulas presenciais na rede pública de ensino municipal e estadual a qualquer custo. Inclusive, conseguiram aprovar um projeto de lei tornando a educação serviço essencial, mas torceram o nariz quando o prefeito Rafael Greca (DEM) vetou dispositivo que retirava dele a prerrogativa de manter escolas fechadas. Para a Bancada do Negacionismo, as instituições devem funcionar, mesmo com efetivo reduzido, a qualquer custo. É claro, a preocupação não é com a vida das pessoas, mas com o lobby das escolas particulares. O direito ao ensino e os efeitos psicológicos são apenas o pretexto.

Eis que a bancada negacionista voltou a atuar após a Prefeitura de Curitiba optar por fazer lockdown no sábado e domingo. Mesmo diante da iminente adoção de bandeira vermelha e de uma nova onda na capital, os vereadores protestaram contra o fecha tudo. Os vereadores fizeram um protocolo sobre a reabertura dos mercados aos fins de semana. Assinam Sidnei Toaldo (Patriota) e conjuntamente por Alexandre Leprevost (SD), Amália Tortato (Novo), Denian Couto (Pode), Indiara Barbosa (Novo) e Leonidas Dias (SD) (203.00268.2021 e 203.00272.2021), respectivamente). Eis a Bancada do Negacionismo.

A bancada negacionista perdeu recentemente um dos seus expoentes, o bolsonarista Eder Borges, cassado por irregularidades na campanha. Enquanto era vereador e no meio da segunda onda de março, ele queria que Curitiba adotasse o Kit Covid, que é alvo da CPI no Senado Federal. 

Tem a ver com a liberdade de escolha, para que as pessoas que assim quiserem tenham acesso ao tratamento”, defendeu Borges. Segundo a CMC, o pedido foi apoiado por Ezequias Barros (PMB), Pastor Marciano Alves (Republicanos) e Osias Moraes (Republicanos). Na véspera, a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL) havia se manifestado a favor do tratamento precoce (confira aqui).

Comércio em primeiro lugar

Um debate nacional que Curitiba participa é o falso dilema de que é preciso abrir o comércio para salvar vidas. Especialistas comentam que sem a cura e a vacina, não adianta reabrir comércio porque as pessoas evitam comprar. 

Mas, para Mauro Ignácio (DEM), embora a prioridade seja a vacinação, os restaurantes devem ser autorizados a funcionar na condição de atividade essencial. “Porque enquanto umas pessoas podem trabalhar em casa, outras precisam ir às ruas, pegar o transporte coletivo, [e com as restrições] estão fora de casa quando precisam se alimentar”, alertou o parlamentar. Para combater essa distorção, Ignácio protocolou projeto de lei para reabrir restaurantes e similares (005.00078.2021).

Ou seja, se a Prefeitura de Curitiba encaminhar um novo lockdown por causa do alto índice de propagação do vírus, dos hospitais lotados e das mortes, a Bancada do Negacionismo vai trabalhar para que a cidade não faça o correto isolamento social.