Durante a campanha eleitoral, cresceu a pressão em cima dos trabalhadores de que empresários e comerciantes deixariam o país caso o Partido dos Trabalhadores seja eleito novamente.  Em dois casos recentes, os empresários Luciano Hang, da loja de Departamentos Havan, e Pedro Joanir Zonta, dos Supermercados Condor, foram punidos pelo Ministério Público do Trabalho. Ambos constrangeram seus funcionários a votar em Jair Bolsonaro (PSL) e a não votarem em Fernando Haddad (PT). Entre os argumentos, disseram que o PT é um risco para os negócios e para a geração de empregos. Chegaram a dizer que poderiam fechar as portas. No entanto, esses empresários lucraram muito na Era PT. Não só eles, mas o comércio e empresas em geral.

De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o comércio varejista havia recuado -3,7% em dezembro de 2013. Já o Paraná (0,9%), Santa Catarina (0,5%) haviam apresentado crescimento tímido. Esse cenário muda a partir de 2004. Foram registrados 11 anos seguidos de crescimento no setor. Todos nos governos petistas. O maior deles, de 10,9%, em 2010, durante o primeiro governo de Dilma Rousseff. Os números passam a retrair durante a crise instalada por Aécio Neves (PSDB) ao não aceitar o resultado das eleições, chegando a retração de -6,2% em 2016, quando o país já era governado por Michel Temer (MDB).

Fase de ouro
Já um relatório da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) divulgado em 2017 sobre as 300 maiores empresas do setor revela que o Brasil passou por um “Boom de consumo” entre 2003 e 2012, conhecido como “década mágica”.

“A taxa de desemprego caiu de forma consistente, gerando 14,6 milhões de empregos formais, e o salário mínimo teve aumento real acumulado (acima da inflação) de 66% no período. Esse processo provocou transformação na pirâmide socioeconômica brasileira, com a migração de parcela relevante da população do nível de pobreza para dignidade, caracterizada como “classe média emergente, analisa  Alberto Serrentino, em “Varejo e Brasil: Reflexões Estratégicas”, no material informativo da SBVC.

Era petista é considerada de ouro para o comércio varejista. Arte: SBVC

Para os varejistas, embora rechacem eleitoralmente os governos do PT, “nesse ciclo a população foi tomada por um estado de confiança, otimismo e euforia, que a fez aumentar o consumo, em boa parte alavancado pelo volume de crédito livre destinado a pessoas físicas no Brasil. A melhora no padrão de vida tangibilizou a transformação sociodemográfica e de hábitos de consumo no Brasil. No varejo, os segmentos que mais se beneficiaram desse boom de consumo foram os de eletroeletrônicos, móveis, telefonia e informática”.

O índice de receita nominal de vendas no comércio varejista também subiu 302% de 2003 a 2016, segundo dados do IBGE. Em dezembro de 2003, esse crescimento foi de 13,4% no Brasil e de 19,2% no Paraná. O melhor desempenho nacional ocorreu em dezembro 2008, com crescimento de 15,1% na receita nominal.

Geração de empregos
Esses números levaram a geração de empregos  no país, e em especial no comércio varejista. Em 2002, o Brasil possuía 28.683.913 com empregos formais. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), com base em números do Ministério do Emprego e Trabalho (MTB), o país atingiu 49.571.510 em 2014, o que sustenta o argumento do PT de que na sua época foram gerados 20 milhões de empregos formais. Desses números, 22% dos empregos são no setor varejista, de acordo com o IBGE, sendo o maior empregador brasileiro.

Além da geração de empregos, a política de valorização do salário mínimo aqueceu o mercado interno brasileiro. Gráfico: DIEESE/PR

“Com a progressiva ascensão social das classes de renda mais baixa, diversos bancos e financeiras viram oportunidade na aquisição de carteiras do varejo e de associações ou acordos que permitissem introduzir ou ampliar a venda de produtos financeiros em lojas. O crédito de consumo destinado a pessoas físicas no Brasil passou de 5,8% para 14,6% do PIB entre 2003 e 2012”, admite o estudo da SBVC.

Pepe Mujica, Lula e Dilma Rousseff em Santana do Livramento. Foto: Ricardo Stuckert

Faturamento do Condor
O governo do PT, ao contrário do discurso eleitoral, fez bem aos setores que o criticam agora. Uma reportagem do Diário da Indústria e Comércio (DIC) de 2004 mostrou que o Supermercados Condor se beneficiaram bastante do governos de Lula e Dilma. A reportagem revela que o “Condor, 2ª maior empresa supermercadista do Paraná, segundo ranking de 2003 da Abras, obteve um crescimento nominal de 22% no faturamento de 2003 frente ao ano anterior, subindo de R$ 471 milhões para R$ 572 milhões”.

O efeito é tão positivo para os Supermercados Condor de Pedro Joanir Zonta que ele poderia ter escrito uma carta aos seus colaboradores em 2015, por exemplo, comemorando os resultados obtidos nos últimos anos graças a política de redução expressiva do desemprego, a evolução expressiva do salário mínimo, redução da pobreza e da miséria, desoneração das empresas e aquecimento do mercado interno promovidos no governo do PT:

Curitiba, 05 de outubro de 2015

Caros colaboradores,

Em função do expressivo crescimento econômico observado no país a partir de 2003, impulsionado pelo avanço do emprego formal, elevação da renda, maior acesso ao crédito, que resultou em um maior consumo por parte da população, nosso grupo foi impactado positivamente. Conseguimos expandir nossa rede e nos tornamos um dos maiores grupos supermercadistas do Brasil. Analisando o período de 2002 a 2015, nosso faturamento saltou de algo em torno de R$ 471 milhões para R$ 3,8 bilhões em 2015, um aumento astronômico de 710%. E não fomos somente nós favorecidos pela conjuntura econômica daquele período, o comércio como um todo apresentou indicadores positivos, não só no Paraná, mas em todo Brasil, inclusive o estado vizinho de Santa Catarina também foi favorecido.