Ratinho Júnior impõe ideologia de mercado na semana pedagógica

Educadores alertam para "Ciclo de formação na lógica empresarial"





Foto: Rodrigo Félix Leal

APP Curitiba Norte*

A gestão do governador Carlos Roberto Massa Junior (2019-2022) que se inicia colocou a frente da Secretaria de Estado da Educação o empresário de tecnologia Renato Feder, que possui amplos poderes para reorganizar a forma e organização da rede pública de escolar paranaense. O novo secretário trouxe na bagagem uma rápida passagem como assessor voluntário na Rede de São Paulo durante gestão do PSDB.

Pela indicação do secretário veio o superintendente da SEED, Raph Gomes Alves, que nos últimos dois anos participou da reforma do Ensino Médio no MEC (Gestão Temer) como diretor de currículo da Secretaria de Educação Básica. Antes do MEC, esteve na Rede de Goiás (gestão PSDB), sendo ligado a Fundação Lemann como um dos atuantes idealizadores de programas[1].

A Semana Pedagógica de 2019 tem início nas mais de 2140 escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná com uma nova lógica imperando. O período de formação foi alterado de “Semana Pedagógica” para “Estudo e Planejamento”, além da nova nomenclatura, a lógica que perpassa os documentos é a empresarial dos resultados!

Os roteiros enviados para as instituições possuem o tempo cronometrado para cada passo a ser desenvolvido pelas equipes escolares. Lembrando que o controle do tempo é algo extremamente importante na lógica empresarial de controle do trabalho.

No dia 11 todos os profissionais devem realizar a análise dos índices do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da sua escola, com o objetivo de já “apresentar ações possíveis para a melhoria da aprendizagem e aprovação”.  A comunidade escolar é a maior interessada em que a aprendizagem aconteça, bem como a aprovação, a reflexão sobre a avaliação externa deve existir, mas não pode ser tomada como aspecto principal de análise, tendo em vista que realiza um recorte sobre apenas duas disciplinas (Matemática e Língua Portuguesa), de forma pontual (um único dia). Além disso, diversos autores[2] alertam para o problemas das visões equivocadas das avaliações externas que vão desde o ranqueamento das escolas, a utilização como ferramenta de adequações dos sistemas de ensino.

Importante lembrar ainda que na última avaliação muitas escolas não receberam suas notas porque o Ministério da Educação alterou depois de 20 anos a metodologia análise dos resultados sem prévio aviso o que levou vários estados a contestarem os resultados.

No período da tarde deverá ser realizado o Plano de ação que até 2018 era composto de sete dimensões e foi reduzido para apenas uma que é a da aprendizagem.

No segundo dia a proposta é a (de) formação separada de docentes e agentes educacionais, aos primeiros será destinado a temática de “Gestão em sala de Aula: Liderança no processo educativo”,  e ao segundo grupo, informações relacionadas ao patrimônio, cardápio e memória escolar.

O material dos professores está embasado nos conceitos da nova psicologia do sucesso empresarial chamada mindset, de liderança empresarial e religiosa, já que traz citação do teólogo britânico John Stott. Apresenta ainda as características de um bom líder que deve ser: comunicativo, inspirador, criativo e dinâmico, etc.

O material aborda também os elementos que a SEED considera importantes para uma boa gestão da sala de aula, sem apresentar autores da área de educação que sustentem os conceitos apresentados.

Para os funcionários as temáticas não trazem aprofundamento e desconsideram seu papel no processo educativo, tomando-os como mero executores.

No período da tarde deste dia a equipe de gestão poderá optar por temas relevantes para a escola ou utilizar a oficina pronta de tecnologia.

No dia 13 os professores deverão realizar o planejamento de suas atividades para os quinze primeiros dias letivos. Os agentes educacionais estarão envolvidos com temas como sustentabilidade e violência.

Em trecho nenhum dos materiais a mantenedora aborda questões determinantes para exista uma boa aula, como melhoria da infraestrutura das edificações, porte de escola, condições socioeconômicas dos educandos, alunos de educação especial, redução de número de alunos por turma, questões salariais.

A questão do porte das escolas que gera insegurança porque é alterado sem aviso e sem que os profissionais das escolas conheçam os critérios,  usamos como exemplo o professor pedagogo, que até 2018 era de 150 alunos para cada pedagogo, já em 2019 a SEED entende como aceitável que cada professor-pedagogo seja responsável pelo processo de ensino-aprendizagem de 225 alunos.

O aumento de 75 alunos,  veio acompanhada por uma revogação de direitos conquistados desde 2011, que foi expressa na resolução de distribuição de aulas deste ano (2/2019), em que os professores-pedagogos  tiveram sua jornada de trabalho alterada de hora aula para hora-relógio. Fato já ocorrido com os demais professores, quando o governo de Carlos Alberto Richa sorrateiramente surrupiou duas horas atividades.

A categoria dos profissionais da Educação no Paraná está gemendo pelos anos ataque, congelamento de salário, perseguições políticas, péssimas condições de trabalho, que geraram um processo de adoecimento com inúmeros casos de comprometimento na saúde física, emocional e mental chegando até o extremo do suicídio.

Por todas as condições penosas que os profissionais da Rede Estadual passaram no ultimo oito anos, também pelo tom do primeiro material enviado pela nova gestão da SEED é imperativo aos trabalhadores da Educação do Paraná um processo de resistência, que começa no interior da escola, por meio de desenvolvimento de um trabalho coletivo de toda a comunidade escolar, embasado em um Projeto Político Pedagógico bem fundamentado em autores que compreendam a escola pública e a realidade socioeconômica das nossas comunidades. O fortalecimento das ações coletivas em detrimento do individualismo e por fim, a participação organizada no sindicato.

[1] O programa FORMAR é o principal, possuindo três eixos: políticas educacionais, formação continuada e conectividade e inovação.

[2] Benitez (2014); Horta (2018); Freitas (2018); Miranda (2006)

*Artigo públicado no site da APP Curitiba Norte