Mais de 4 mil pessoas celebraram a democracia neste domingo (22) na partida de futebol entre os amigos do ex-presidente Lula e Chico Buarque contra o time do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A celebração aconteceu em um lugar simbólico, o campo Dr. Sócrates Brasileiro, da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) do MST, em Guararema, a 80 quilômetros de São Paulo.
A partida reuniu ex-jogadores, músicos, políticos, intelectuais, jornalistas e representantes de movimentos sociais e sindicais. De um lado os amigos de Lula e Chico, entre os quais Eduardo Suplicy, Chico Dias, Afonsinho, Chico César, Otto e Fernando Haddad. Do outro o time do MST com reforços como Monica Benício, Preta Ferreira e os deputados Edegar Pretto, Nilton Tatto e Natália Bonavides, entre outros convidados.
Foi a segunda vez que o clássico da democracia foi disputado. A primeira aconteceu em 2017 na inauguração do campo Dr. Sócrates. Como há dois anos, a arbitragem ficou por conta do jornalista Juca Kfouri “Naquela oportunidade me apresentei como juiz ‘Juca Moro’. Apliquei um cartão amarelo no Lula antes mesmo de começar o jogo e o expulsei logo no início da partida por tirar a camisa na comemoração de um gol. Hoje as coisas mudaram, hoje serei o juiz ‘Juca Mandela’ e antes de começar o jogo faço questão de mostrar um cartão verde para o presidente Lula”, anunciou o comandante do espetáculo.
Antes da bola rolar foi respeitado um minuto de silêncio ao jornalista José Luis Longo, que morreu no sábado (21) aos 62 anos. Ex-editor do jornal Estado de Minas, Longo foi um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana e participaria da partida deste domingo.
Chico Buarque e Lula fizeram um saudação ao público presente. O cantor lamentou que o jogo não tenha ocorrido em 2018 e aproveitou para fazer um pedido ao time adversário. “Peço para os zagueiros do MST deixem o Lula livre”, brincou. O ex-presidente completou: “Eu preciso ficar livre, eu preciso marcar gol. Eu preciso causar inveja aos nossos adversários, que são os adversários da democracia. Porque enquanto eles transmitem ódio todo santo dia, nós vamos transmitir alegria, futebol e amor”, disse Lula.
Com a bola rolando, muita disposição de todos, mas habilidade e técnica restrita a poucos, entre eles os ex-jogadores Afonsinho e Nando Antunes, que além de terem sido craques dentro de campo, também se destacaram por suas posições de defesa da democracia. O rebelde Afonsinho – homenageado em uma música de Gilberto Gil – foi o primeiro jogador a conquistar o passe livre. Já Nando, irmão de Zico, foi o primeiro ex-jogador de futebol anistiado do país. Entre os “atletas de fim de semana”, destaque para atuação de Haddad e do advogado Cristiano Zanin, que mostrou desenvoltura na lateral esquerda.
Jogando em casa, o time do MST começou na pressão e deu bastante trabalho ao goleiro da equipe visitante. Com liberdade, Lula era bastante acionado no comando de ataque por seus companheiros. Aos 8 minutos, em uma disputa com a dupla de zaga do MST, o petista sofreu uma carga na entrada da área. Sem auxílio do VAR, Kfouri apontou a marca do cal. O próprio camisa 13 cobrou. Goleiro para um lado, bola pro outro. Placar aberto pelo ex-presidente.
Ainda na primeira etapa o deputado federal Nilton Tatto empatou para o time do MST. No segundo tempo, Chico Buarque, também em penalidade duvidosa, desempatou e deu a vitória para sua equipe. Toda a partida teve transmissão ao vivo com comentários especiais do jornalista José Trajano. “Domingão de sol, com Chico Buarque, com Lula livre, com milhares de pessoas presentes. É uma honra participar desta festa”, destacou Trajano.
Marielle Vive
A partida também teve uma homenagem especial a Marielle Franco. A camisa do time do MST estampava o rosto da vereadora assassinada em 2018. A militante Monica Benício, víuva de Marille, foi convidada para integrar o time do movimento. “É uma festa de confraternização de 2019, que foi uma continuação de 2018 e que não se apresenta no seu próprio fim agora, pois em 2020 teremos muita luta pela frente. Mas esse é o nosso espiríto, o da confraternização e solidariedade com muito humor e afeto. Essa é a política revolucionária que a gente acredita”.
Programa de família
Muitas famílias aproveitaram o domingo ensolarado para participar da festa e conhecer a Escola Nacional Florestan Fernandes. “É maravilhoso encontrar tanta gente que pensa como a gente. Que defende a democracia, que é contra a ditadura. Em um momento como esse do Brasil, onde estamos comandados por energúmenos, é revigorante ver tantas pessoas que defendem a democracia”, disse Tatiana Ferraz, que veio da capital paulista com o marido e casal de filhos.
Mariane Rezende, de Uberlândia (MG), também veio com familiares acompanhar o marido Marcelo jogar pela equipe dos Amigos do MST. Em meio a torcida a pequena Moara, de apenas 1 ano e meio, era atração. “A gente estava com medo dele [Lula] não estar livre neste momento. É gratificante participar deste momento, vestir essa camisa do Lula Livre sem ser repreendida em um momento de liberdade atacada”, afirmou.
Mineiro de Belo Horizonte, Guilherme Vaz veio passar o fim de ano na casa da namorada Maria Eduarda, em Guarulhos (SP). O casal aproveitou a oportunidade para prestigiar a festa em Guararema. “Está sendo uma festa muito bonita que envolve a luta pela reforma agrária e cultura popular”, disse Guilherme. “É um momento simbólico de Lula livre e nos braços do povo”, completou Maria Eduarda.
Ao fim da festa, o resultado da partida pouco importou ao público presente, pois quem saiu com três pontos foi a democracia no campo de futebol que leva o nome daquele que usava as pernas para amplificar sua voz pela defesa da liberdade. Saudoso Doutor aprovou!
Confira abaixo mais imagens da festa na ENFF
