Coletivo de mulheres da reforma agrária organiza atividades do 8 de março

Elas vão discutir a violência obstétrica em encontros e atividades de formação





Mulheres do MST debatem violência obstétrica. Foto: Thea Tavares.

A morte de uma trabalhadora rural de Boa Ventura de São Roque e do seu bebê recém-nascido em decorrência de um parto forçado no mês passado, na cidade de Guarapuava-PR, chamou a atenção do coletivo de mulheres sem-terra do estado do Paraná, que encontra-se reunido esta semana no município da Lapa para planejar sua participação no encontro nacional, a ser realizado em Brasília de 5 a 9 de março, bem como as atividades relacionadas ao 8 de março, o dia internacional da mulher. Elas pretendem levar esse debate a todos os espaços de discussão dos direitos das mulheres.

O caso de violência obstétrica sofrido pela camponesa da região central do estado motivou o coletivo de mulheres da reforma agrária a propor colocar na pauta da programação desse encontro uma reflexão sobre o tema da violência obstétrica e também sobre o enfrentamento das diversas formas de violência contra as mulheres.

“Em pleno século XXI, as trabalhadoras estão sofrendo violência na hora do parto e perdendo a vida, quando esse problema já deveria há muito ter sido superado pelos avanços da nossa sociedade”, critica Maria Izabel Grein da Escola de Mulheres do MST-PR.

Segundo a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT), que marcou presença na reunião do coletivo para manifestar seu apoio à luta das mulheres sem-terra, “as mulheres trabalhadoras, pobres, são as mais prejudicadas com os desmontes das políticas públicas sociais e de inclusão”. “Elas são as principais usuárias dos serviços públicos e as primeiras a sofrerem com a falta de acesso ou de serviços para atender a população”, disse Luciana.

A violência obstétrica

Por ter uma gravidez de risco, a trabalhadora rural de Boa Ventura de São Roque fez todo o pré-natal em Guarapuava, cidade pólo da região. A criança, ao nascer, pesava 4,7 Kg. A família atribui os problemas ocorridos à demora em fazer o parto desde a entrada da paciente no hospital. O parto foi forçado, inclusive com o uso de fórceps. Devido aos ferimentos, o bebê não resistiu e faleceu dois dias depois. A mãe, de acordo com os relatos da família, teria sofrido perfurações no útero e em outros órgãos, entrando em coma logo em seguida. Faleceu após duas semanas nesse estado grave.

A trabalhadora rural já havia enfrentado uma situação parecida anteriormente, quando sua filha, então com 15 anos, deu à luz uma criança por procedimento que os parentes também consideraram demorado. A demora em nascer, segundo eles, fez com que a criança desenvolvesse problemas de saúde, que se manifestam através de convulsões frequentes. O pai da criança, na época, reclamou da demora do parto e conta que, embora tivesse assumido a paternidade e acompanhasse a mãe o tempo todo, foi ameaçado pela equipe de atendimento do mesmo hospital de ter de responder à polícia sobre sua relação com uma jovem, menor de idade.