Bolsonaro coloca a democracia na sinuca de bico

País pode estar caminhando para a fissura institucional





Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não pode alegar inocência ao compartilhar um vídeo que convoca apoio a si e manifestação contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). No Twitter, ele disse que era uma manifestação de cunho pessoal. Só que ninguém conspira a luz do dia e por decreto.

Messias colocou a democracia em uma encruzilhada. As instituições e partidos políticos reagiram imediatamente a ameaça. Manifestações estão sendo preparadas. Setores já clamam por impeachment por crime contra a constituição. Outras autoridades, como o ministro do STF, Celso de Mello, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pregam cautela e bom senso. Não parecem querer passar pano. Sabem que o acirramento dos ânimos pode favorecer Bolsonaro que pode partir para a fissura se tiver coragem.

O Brasil está numa sinuca de bico. A tentação de Bolsonaro pelo golpe fica cada vez mais transparente. As manifestações a favor podem ser sua injeção de ânimo. Nas redes sociais, os militantes de extrema direita segue pregando o fechamento do Congresso e do STF. Ignoram que a família Bolsonaro, com seu senador, deputado federal e vereador, se alimenta há 30 anos do sistema que eles dizem estar corrompido. Querem dar mais poder ao mito. Querem transformar o país numa Venezuela.

Já a manifestação em contrário pode ser a justificativa para o golpe. Diante da possibilidade de sua queda, Bolsonaro se antecipa e atira contra as instituições. E é bom que se fique claro, ao tentar “derrubar legalmente” o presidente não adianta esperar que ele caia pacificamente por meio de uma renúncia. Os partidos de esquerda, centro, e as instituições têm que ter isso em mente.

Outro caminho possível é ir inviabilizando Bolsonaro no Congresso e no processo decisório do país. Na prática, isso já vem ocorrendo com a votação das reformas (a da previdência aconteceu conforme o interesse dos deputados) e a derrubada da agenda bélica do presidente como no excludente de ilicitudes e outros pontos. Aliás, é digno de perplexidade que um presidente sem partido e que só constrói inimigos e adversários ainda goze de qualquer prestígio político.

Com o campo minado, muitos personagens são fundamentais nesse embate. Um deles é o ministro Sérgio Moro. Um golpe ou impeachment podem minar suas chances presidenciais em 2022. Se Bolsonaro radicalizar, sua saída do governo pode torná-lo líder natural dos defensores da democracia. Mas se ficar, esperando que no futuro Messias lhe passe o bastão, entrará para a história como capacho de miliciano.

Outro ator de peso nessa sinuca são as Forças Armadas. Tão pouco tempo depois vão embarcar na alucinação de Bolsonaros e Helenos da vida e jogar fora a reconstrução de sua imagem tão desgastada? Agora os militares sequer têm a “ameaça comunista” como desculpa para derrubar a democracia.