Não se engane, o general Pazzuelo é o ministro da Saúde

Em meio a genocídio, ele é afagado pelos bolsonaristas Greca e Ratinho Junior





Pazzuelo foi recepcionado pelo prefeito de Curitiba e governador do Paraná no momento em que estado vê surto de contaminações e mortes. Foto: Rodrigo Félix Leal/Aen

A nomeação – ou não – do General Pazzuelo como ministro da Saúde é mera formalidade. Ou informalidade, para se adequar corretamente a esse governo. Desde as saídas do médico e político Luiz Henrique Mandetta e do médico e empresário Nelson Teich, o presidente Jair Bolsonaro encontrou o homem ideal para pôr em prática seus devaneios conspiratórios e negacionistas do que deveria ser o cargo mais importante da nação neste momento. 

A prova disso são as revelações de que sob o comando de Pazzuelo, o Ministério da Saúde ignorou as recomendações para fazer o isolamento social e o alerta para a falta de insumos, mantendo como prioridade a recomendação da cloroquina, como queria Bolsonaro.

É um equívoco jornalístico e político chamar Pazzuelo de ministro interino ou reclamar que “o Brasil está há 70 e tantos dias sem ministro” só porque Bolsonaro não deu uma canetada no Diário Oficial. Nem vai dar, porque a pressão será maior se ele oficializar. Melhor ir empurrando com a barriga. O ministro de fato disse que sai quando a pandemia passar, abrindo espaço para a pasta ser comandada pelo Centrão. Pelo andar da carruagem, isso não acontece tão cedo.

Tanto é que após a saída do fanático ministro da Educação, Abraham Weintraubt, Bolsonaro se coçou para encontrar outra pessoa para o cargo. Tentou dois nomes até chegar a um pastor. Já na saúde, não se ouvem falar mais em nomes porque não se procura – ou procurava – por novos nomes. É Pazzuelo mesmo. Talvez, depois do ministro da Economia, Paulo Guedes, ele seja o ministro – de fato, de exercício – mais sólido no cargo. Solidez sustentada nos mais de 2,2 milhões de contaminados e mais de 84 mil brasileiros mortos.

Quem percebeu bem essa manobra de nomear o ministro da Saúde na informalidade foi Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao cravar na testa dos militares o consórcio ao genocídio no país, eles reagiram rapidamente, inclusive com o vice-presidente Hamilton Mourão cobrando que Mendes se desculpa-se por expor a verdade. 

Se assim não é, ou seja, se os militares não dão as cartas no Ministério da Saúde, por que esses leigos no setor enviaram comunicado exigindo que os especialistas da Fiocruz recomendassem a cloroquina?

Portanto, o general Pazzuelo é o terceiro ministro da Saúde do Brasil. E sob seu comando o país perdeu totalmente o controle da pandemia, diante da incapacidade do militar de coordenar estados e municípios em ações conjuntas de combate ao vírus e de adotar protocolos científicos para enfrentar a pandemia.

O ministro Eduardo Pazuello elogiou a estratégia de testagem do Paraná. Foto: Rodrigo Félix Leal

Pelo contrário, o ministro ainda conta com apoio de prefeitos e governadores bolsonaristas. É o caso do prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM) que mesmo diante da quase lotação dos leitos, manteve a bandeira laranja e liberou a retomada de diversas atividades não essenciais (Clique e leia “Quase sem leitos de UTI, Greca libera quase tudo“).

Também é o mesmo apoio do governador Ratinho Junior, principal aliado de Bolsonaro, que relaxou o isolamento social mesmo com o aumento de casos no Paraná (leia: “Paraná bate recorde de mortes e contaminação e Ratinho Junior toca o fo*&%$“). Ratinho Junior, aliás, foi um dos poucos governadores que não assinou a carta em defesa do Fundeb para não contrariar o presidente e também comprou grandes lotes de cloroquina e hidroxicloroquina em abril. Na semana passada, infectologista que se reuniram com o Secretário de Saúde criticaram o uso desses medicamentos.

::. Clique e leia “Governo do Paraná aposta na cloroquina para tratar infectados pela Covid-19

Tanto afago que foram elogiados pelo ministro. “Quando vemos um Estado unido como o Paraná, é um diferencial, nos deixa esperançosos em relação ao futuro desse enfrentamento”, afirmou o ministro.

No presente, portanto, é assim que deve ser encarado. Pazzuelo, ministro de fato, deve ser cobrado pelos péssimos resultados e, no futuro, no tribunal da história, ele, os militares e os governantes que apoiaram sua política de exposição viral com decretos liberando o comércio e recomendando a cloroquina serão julgados por estarem no comando do maior número de brasileiros mortos durante uma catástrofe de saúde.