O médico Drauzio Varella alertou: “Parece que o Brasil decretou o fim da pandemia no começo do ano”. Todo o comércio reabriu. Shopping e academias também. As pessoas se aglomeraram em bares, restaurantes, baladas clandestinas e liberadas, parques e praias. A população deixou de usar máscaras e abandonou o isolamento social. Todas atitudes que o presidente Jair Bolsonaro defende na “contaminação de rebanho”. O resultado veio a galope. A saúde entrou em colapso, começando pelos estados do sul.
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, estados que tinham a situação da covid-19 controlada no fim de 2020 foram os primeiros estados a sentirem os impactos do liberou geral. Foi na região sul, onde Bolsonaro ainda conta com boa avaliação, que a exposição viral testou a contaminação de rebanho “com mais sucesso”. Não a toa, o presidente foi visto nestes três estados ao lado dos governadores e promovendo aglomerações.
Em Santa Catarina, no dia 15 de fevereiro, Bolsonaro, faceiro, andou de jet ski, se aproximou da praia, em São Francisco do Sul, e promoveu aglomeração com banhistas. O mesmo que havia feito em Praia Grande (SP), dias antes. O estado catarinense que liberou praias, comércios e shoppings, agora está na fase vermelha, considerada gravíssima e tendo que transferir pacientes por não ter mais leitos. São 668,6 mil casos no estado.
No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) resolveu subir o tom contra Bolsonaro pouco antes de decretar a bandeira preta em todo o estado e à divulgação de repasses federais. “É difícil entender a mente do presidente, mais difícil ainda entender o seu coração, porque é questão de desumanidade”, comentou o governador. Mas em dezembro, Bolsonaro era recebido com festa no estado pelo governador com inauguração de um trecho de duplicação de 27 km em Barra do Ribeiro.
O Paraná não fica de fora desta estatística. Como bem anotou o ex-deputado federal Doutor Rosinha, por aqui, o governador Ratinho Junior andava de mãos dadas com Bolsonaro para cima e para baixo com inaugurações em Foz do Iguaçu e Cascavel. Ratinho é um bolsonarista convicto. “Para manter a imagem de bom governante, não fala contra o uso de máscara e álcool gel. Tampouco a favor de aglomerações, apesar de provocá-las. Também não dá declarações contra a ciência. Só que não coloca em prática o que a ciência recomenda ou o bom senso aconselha. No início deste ano, quando a pandemia da covid-19 dava sinais de recrudescimento, Ratinho Jr. marcou a data da retomada das aulas presenciais”, observou Rosinha.
O estado adotou um semi lockdown e uma das cidades que entrou em colapso primeiro foi Cascavel. Sem leitos, os pacientes são atendidos nos corredores dos hospitais. Nesta cidade, em 4 de fevereiro, Bolsonaro, o governador e o prefeito Leonardo Paranhos (PSC) promovia aglomerações e corriam alegramente em mais uma inauguração, dando a largada para o colapso que viria dias depois.