O personagem de bom moço em pele de Ratinho

DOSSIÊ: Na crise entre governadores e Bolsonaro, governador do Paraná não quer se indispor com presidente autoritário





Governador do Paraná segue aliado de Bolsonaro. Foto: Rodrigo Félix Leal/AEnPR

Não tem passado despercebida a falta de coragem do governador do Paraná Ratinho Junior (e do ministro da Justiça, Sérgio Mouro, anote-se) em enfrentar os autoritarismos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Tigrão com o funcionalismo público e movimentos sociais, Ratinho tem sido uma tchutchuca com os desmandos e ameaças golpistas de “Bolsonero”. O governador não peca apenas pela omissão. Seu perfil autoritário também se revela nas ações que toma.

A oposição no Paraná anotou bem que Ratinho Junior foi um dos sete governadores que se negaram a assinar a carta em defesa dos presidentes da Câmara e Senado, denunciando os abusos de Bolsonaro e defendendo as medidas de isolamento social diante da pandemia.

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O ex-deputado federal e ex-presidente do PT estadual, Doutor Rosinha, sintetizou a questão. Ele disse que o governador do Paraná, desde a disputa eleitoral e no cargo de maior autoridade do estado, simula ser bom moço, ter postura de estadista, mas suas decisões e práticas são do ‘velho novo na política’.

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“Na sua elegância, de cabelo sempre assentado, o bom menino sempre apoiou as ações políticas e os atos fascistas de Bolsonaro. Nunca condenou ou sequer comentou em público os discursos de –Bolsonaro –a favor da violência e do AI-5. Ontem, teve a oportunidade de coletivamente, junto com outros governadores e governadora, condenar o autoritarismo de Bolsonaro, e defender a democracia, mas Ratinho Jr. não o fez”, avaliou Rosinha.

Governador está sempre presente em ações de Bolsonaro. Foto: Dvulgação ANPr

Aliado fiel
Mas essa não é a primeira vez que o governador fica distante dos governadores e evita se indispor com “Bolsonero, o Capitão Coronalouco”. Ele não havia assinado a carta dos governadores quando esses criticaram o presidente por atribuir aos estados o preço elevado da gasolina. A alegação era o ICMS. Isso fevereiro deste ano. Dois meses depois, diga-se de passagem, Bolsonaro está enlouquecido porque Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre aprovaram no Congresso o socorro financeiro aos estados diante da pandemia. Ajuda que beneficia Ratinho Junior, evidentemente.

Mas, voltando ao ICMS, ao invés de assinar a carta, o governador do Paraná disse concordar com “Bolsonero” na redução do ICMS desde que este aumentasse o repasse de recursos ao Paraná. Ratinho conseguiu, de uma só vez, não bater de frente com os governadores, com a população e com seu grande aliado. Em reportagem neste Porém.net se observou que a estratégia tinha relação com a pesquisa de avaliação positiva de Bolsonaro, Ratinho e do ativista judicial e atualmente sumido Sérgio Moro.

:: Governadores criticam postura de Bolsonaro; Ratinho Junior segue fiel

Ratinho não adota discurso de Bolsonaro, mas práticas de Moro. Foto: Rodrigo Félix Leal/ANpr

Ratinho endossa políticas de Bolsonaro
A ausência do governador do Paraná na carta dos governadores contra o AI-5 é apenas um indício de que mais do que preterir a democracia, Ratinho é da brigada dos “cloroquiners”. Prova disso é que o estado comprou grandes lotes de hidroxicloroquina e cloroquina, como revelou este repórter. Mais do que isso, Ratinho comprou a “fake news” de que é possível tratar a Covid-19 em massa com base em uma nota superficial do Ministério da Saúde e contra os questionamentos científicos da Fiocruz e da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Verdade que o Paraná adota o isolamento social como medida de combate a medida. Não é mentira, por outro lado, que há vistas grossas para desrespeito ao isolamento social e tolerância aos protestos pela reabertura do comércio.

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Sindicatos protestam contra decreto. Foto: Manoel Ramires

Tigrão com o funcionalismo
O gosto pelo autoritarismo e pouco apreço à democracia quando esta pode derrotá-lo também são evidentes na relação entre Ratinho Junior e o funcionalismo público que, agora, segura as pontas na pandemia.

Aproveitando-se do estado de calamidade pública, o governador aprovou diversos decretos atingindo os servidores públicos estaduais. Em uma trapalhada (clique aqui e veja “Após trapalhada, Ratinho Junior vai suspender licença especial obrigatória na educação”), por exemplo, obrigou os professores e funcionários de escola a tirarem licença prêmio – que ele havia negado em outro momento -, mas teve que revogar para aplicar o Ensino à Distância.

Ratinho contratou a operadora Claro por R$ 20 milhões com dispensa de licitação, mesmo o estado tendo a Copel Telecom presente em todo estado. Contratou a RIC TV, mesmo ela não tendo cobertura em todo o estado (Veja: “Contratada para teleaula, RIC não tem cobertura em 28,57% dos municípios do Paraná”). Contratos esses que levaram a oposição na Alep a pedir “investigação sobre irregularidades relacionadas à privacidade e coleta de dados de estudantes pelo aplicativo Aula Paraná (clique aqui).

Mesmo antes da pandemia, Ratinho já tentava punir os servidores públicos de forma maliciosa. No começo de janeiro, ele editou decreto obrigando os servidores sindicalizados a fazerem recadastramento, senão romperia arbitrariamente o desconto em folha de pagamento. Os sindicatos  e o FES (Fórum das Entidades Sindicais) procuraram o Ministério Público do Trabalho Federal no Paraná e denunciaram a prática antissindical. A alegação do governo era a proteção de Lei de Dados que sequer entrou em vigor. As entidades observaram que o governo queria fazê-las sangrar financeiramente e estava colocando em risco a assistência aos sindicalizados. Ratinho não recuou.

Estendeu o prazo para o recadastramento apenas até 10 de março (a data inicial era 10 de fevereiro) e ainda conseguiu segurar decreto legislativo proposto pelo deputado estadual Tadeu Veneri (PT) que sustava os efeitos de sua medida draconiana. Mas Ratinho foi surpreendido pelo poder judiciário e sofreu derrotas. A justiça concedeu liminar suspendendo os efeitos do decreto e ainda manteve a decisão quando o governo do estado recorreu de sua derrota.

:: Clique aqui e leia Ratinho perde e liminar contra decreto do recadastramento é mantida

200 agentes do Bope ficaram encarregados de proteger a Ópera. Foto: Lia Bianchinni/BDF

Governando à força
Essa derrota deve ser uma das poucas de um governador que destinou apenas R$ 50 para ajudar os paranaenses em situação de vulnerabilidade (veja aqui), que limitou o kit alimentação apenas a estudantes do Bolsa Família (veja aqui), que assinou decreto, mas não publicou durante seis meses sobre a regulamentação da alimentação escolar orgânica (veja aqui). Quando enfim publicou, alterou o conteúdo combinado (veja: “Ratinho Jr altera decreto de alimentação escolar orgânica e desconsidera proposta da sociedade civil”). Ratinho ainda ampliou os despejos no Paraná (veja aqui: “Famílias do MST completam um mês de vigília contra despejos em Cascavel, Paraná”).

Governador que insiste em gastar recursos públicos para construir porto privado no litoral, ignorando projetos alternativos e que tem transformado o IBAMA em um órgão para licenciar a destruição ambiental (veja aqui).

Teatro sem público é farsa
Talvez o jeito de governar a força, de um ratinho em pele de bom moço seja representado da melhor forma na “Batalha da Previdência”. O governador não repetiu o espetáculo de violência contra os servidores na Batalha do Centro Cívico” de seu antecessor traído e abandonado, Beto Richa, mas impôs sua vontade na votação do aumento de alíquota e tempo de contribuição em uma votação do “espetáculo sem público” ocorrida na Ópera de Arame.

O fato é: os paranaenses não estão enxergando ou estão vendo e aprovando o jeito de Ratinho de governar. Ele não tem o discurso violento de “Bolsonero”. Está mais para ações e frases e ensaboadas a la Sérgio Moro. Partindo pra cima de seus adversários de forma rasteira e passando o pano quando aliados passam do ponto e só defendem a Ditadura Militar.

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